INFERNO E PARAÍSO
Ao recostar a cadeira de praia
em paralelo ao céu, de brincadeira,
piloto uma nave espacial.
O subir não me enjoa.
O mais à-toa que posso,
repasso o olhar no que fica.
Um mundo que se apequena.
Não vejo bilhões de seres a disputar poderes.
Uma serpente em pedra, sim, eu vejo.
Vejo também um verde amazônico.
Um azul oceânico.
Um branco monogâmico.
Traspasso risonho o buraco de ozônio.
A altitude vai criando um vácuo
entre o riso e o sonho.
Mas...ainda há uma vasta manta de gás
a proteger epidermes.
A velocidade é encantadora.
E o meu planeta azula,
atolado em seus mares, em seus bares,
em seus lares. Atolado em si mesmo.
Há uma poluição de satélites.
Peões silenciosos.
Vejo um lixo espacial não descartável,
mas não vejo corvos.
A nave percorre um itinerário qualquer.
E o paraíso, que direção terá?
Acima, posso esbarrar no teto do céu.
Abaixo, mergulhar em umbrais.
à frente, como acima e abaixo,
ao buscar o bíblico, encontro só alergia
de poeira cósmica.
Não sou capaz de, sem mapa, encontrar
o inferno e o paraíso...
Fora da Terra.