O CUMPADE POBRE E O CUMPADE RICO...- Causo fictício com uma pincelada do humor do matuto nordestino- Matéria do Cantinho do Zé Povo-O Jornal de Hoje-NATAL-RN-eD. 12/13.SET.2009
Antes de mais nada, quero comunicar aos meus leitores e leitoras, a minha mudança de e-mail; agora é bobmottapoeta@gmail.com
Ninguém caia na besteira de subestimar (valei-me Professor Saturnino; será que escreví correto ?...) um matuto! Tenha muito cuidado. E se for no meio das pessoas; aí é que se dana tudo; e você com certeza se verá numa “camisa de sete vara”... E se você tiver a sorte de se deparar com um matuto “da gema”; na hora em que êle “estiver acocorado cumo quem tá cagando e riscando o chão com um graveto seco, na sombra de uma latada ou de uma árvore qualquer”; Virgem Maria; o peste está a todo vapor... Ou está maquinando alguma munganga ou está se lembrando de algo que lhe divirta ou que já lhe divertiu no passado. E sua mente é de uma prodigiosidade infinita, quando se trata da criação de situações “fulerágicas” para fazer o povão sorrir... O danado se supera e de sua massa encefálica, protegida por aquele velho chapéu de couro surrado e carcomido pelo tempo, pelo atrito com a vegetação da caatinga, pelo sol e/ou pela chuva, saem estórias maravilhosas... Daquela mente “intupigaitada” de fantasia, fluem “Mungangas, Presepadas e Outros Bichos” (título do segundo livro que publiquei em 1996). Mungangas onde o imaginário manda a realidade prá P.Q.Pariu... Depois dele contar a primeira pessoa, surgem inevitavelmente os “agentes multiplicadores da cultura popular matuta”. Quando chega na décima pessoa a contar a mesma estória, a estrutura é a mesma; mas o texto já tem “n” modificações. Cada contador de causo, “dôra a píula à sua maneira”... E a munganga, dependendo da aceitação do povo, se torna muitas vezes antológica... Mas, queridos (as) leitores (as), êsse “leriado” tôdíin qui eu fiz, meus fíi; é mode amostrá uma istóra dessa qui ixpriquei inté aqui; istóra “do tempo qui se amarrava cachorro cum lingüiça e o peste num cumia a corda qui tava lhe amarrando”... E remexendo nais pratilêra de minha memóra, iscundida no imaranhado de neurônio qui a cachaça num cunsiguiu cumê; incontrei essa munganga; “fruito da fantasia do meu irmãozíin matuto”. É a istóra do cumpade pobre e do cumpade rico qui sairo prá pescá. Perpararo aquela ruma de troço qui todo pescadô tem e qui o pobre já vai usá imprestado do rico; e se danaro in procura de uma cuiva do ríi pertíin dadonde êles morava. Chegaro, se arrancharo e butaro ais linha n’água. Dispôi de um certo tempo, ais duas linha isticaro ao mêmo tempo. O cumpade rico pescô um caminhão e o cumpade pobre, pesco um tabô de 200 litro, chêi de óleo diesel... Aí o cumpade pobre falô:
- Cumpade rico; eu num tenho carro; pega prá teu caminhão ?!
O cumpade rico agradiceu, butaro ais linha n’água, de nôvo, e novamente ais linha se isticaro. Quando puxaro, o cumpade rico pescô um cavalo; e o cumpade pobre pescô uma sela... De novo, se repetiu a oferta:
- Cumpade rico, pega prá teu cavalo!
A assim se foi a menhã intêra; o rico só arrecebendo presente e o pobre, coitado; sem pescá nada qui lhe séivisse; só dando o qui pescava, prá o cumpade rico. Mais, lá p’ru mêi da tarde, a coisa mudô de figura; o cumpade pobre pescô um C... e o cumpade rico pescô a “madêra de um jumento”... E aí, minha gente; foi a vêiz do cumpade rico dizê:
- Cumpade pobre; “pega prá teu C...”!...
Morá da istóra: “Pobre é qui nem cachimbo; só leva fumo”!...