UMA JUNTADA DE HORAS
Talvez eu volte, não sei.
Sei que fui embora sem saber.
Agora, na hora da minha sorte,
quando anjos tocam cornetas e
ouço o apito da fábrica de tecido
a chamar operários,
me perco nas horas.
E lembro de mestres compositores.
Vasculhando dias passados,
vejo nós dois encontrados no tempo.
Mas o que é o tempo, senão
uma juntada de horas?
Reciclagem de dias insolventes.
Releitura de anos empoeirados.
Nosso amor pode ter se perdido
nesse emaranhado de idéias.
Se de fato existiu, viveu
enquanto durou.
Talvez eu nunca vá.
Não sei o que me espera
e tenho medo do inusitado.
Tenho medo do agora.
Porque o agora me devora.
O passado não tem mais forças.
E o futuro é um buraco negro.
Sem estrelas.