O DOIDO E O BEBUM DE BOA VISTA-PB.-Prosa poética com uma pitada de humor...-Matéria do Cantinho do Zé Povo-O Jornal de Hoje-Natal-RN.-Ed. de 05/06 set. 2009
O destino, às vezes nos prega peças inexplicáveis! Mas, também, vez por outra, nos dá presentes maravilhosos, que a gente, na maioria das vezes, não espera “de jeito e qualidade”... E três desses presentes; vivenciei nessa semana que hoje finda; no Iate Clube de Natal, durante a apresentação do Projeto Por do Sol do Potengí; do qual, tenho o orgulho e a felicidade de fazer parte, como declamador dos meus poemas matutos. Um desses presentes, veio através de minha própria observação. Eu já vinha notando há algumas semanas, que de oitenta a noventa por cento do público freqüentador, é formado por nossos irmãos moradores daqui mesmo da Cidade Presépio, nossa amada Natal dos saudosíssimos Câmara Cascudo, da Embaixatriz Severina, de Nazir, Zé Minininho, Severino Galvão, Gumercindo Saraiva, Cornélio Campina, Lambretinha, Caboté, Doutor Rossi, Caju Azêdo, Cambraia, Zé Fufú, Nazareno, Víule, Duruca, Bosco Lopes, Dona Maria Boa, J. Epifânio, Adalberto Rodrigues, e tantas outras figuras folclóricas, eternizadas na minha memória e que me fazem sentir muito orgulho de aqui ter nascido. Notei ainda, que muitas daquelas pessoas, estavam “retornando” ao projeto e trazendo seus amigos. Isso é uma massagem no coração de cada um dos que fazem o Projeto. Nosso trabalho está agradando! O outro presente, foi uma abordagem de uma querida leitora do Cantinho do Zé Povo, láa mesmo no Iate Clube, leitora essa a quem peço desculpas por não citar seu nome, pois num anotei, minha fía, e num anotando; já viu, né ? Me discuipe, isso é coisa de véio mêrmo. Eu custumo dizê qui “véio é rico in ixperiença,/ pura vida acumulada./ No qui pese a sua idade,/ inda pensa in namorada./ Dróme pôco, mija munto;/ intende de tôdo assunto;/ mais num se alembra é de naaaada”... Mas, da próxima vez “qui nóis se incruzá”, me cobre a correção dessa minha gafe; e saiba que com sua abordagem, fiquei feliz “qui nem rapariga dispôi da meia noite da sexta fêra da paixão”... É que, querida leitora; nos tempos de outrora, os bordéis fechavam na quinta feira santa e reabriam à meia noite da sexta feira da paixão para o sábado de aleluia, com a malhação do Judas e tudo o mais a que se tinha direito, como o roubo de galinhas, “serrá véio”; e o melhor; a leitura do “testamento do Judas”, ou seja, o que na imaginação do organizador de cada “beréu”, o bicho deixava de herança para cada “quenga”... E o terceiro presente, quem me deu foi meu querido mestre, cumpade Júlio Prêto, que passou um mês batendo perna puraqui, na minha companhia. Enquanto eu esperava a vez da minha apresentação no Por do Sol do Potengí; êle me contou a fuleragem que lhes repasso hoje, bem curtinha, mas que achei maravilhosa, pelo fato de além de ser verídica, eu conhecer “de cabo a rabo”, os personagens da mesma e ter convivido com êles. Boa Vista-PB, terra que me adotou como filho, tinha dois doidos oficiais; o Doido de São Joãozíin, que Papai do Céu já levou; e Bastião Doido, que para minha felicidade, ainda vive batendo perna por lá e deliciando os moradores do lugar com suas mungangas. E foi dêle, Bastião Doido, que cumpade Júlio Prêto, me repassou o causo de hoje. Logo que Boa Vista emancipou-se, teve como seu primeiro Prefeito, meu amigo Dr. Edvan Leite, e como Vice-Prefeito, meu também querido amigo, o Dr. Rosandro Aranha. Tanto o Município recém criado quanto o seu povo, careciam de tudo. E uma das primeiras medidas, foi colocar em pontos estratégicos da cidade, aqueles tambores plásticos, de 200 litros, para que os moradores depositassem nos mesmos, o lixo de suas casas. Como falei antes, lá tinha os dois doidos oficiais, a bicha oficial, que é meu querido “Relaxo”; e uma porrada de bebuns, todos oficializados pela ingestão da “marvada”... E um desses manguaceiros é meu amigo Maciel de Zé Maurício, que certa noite, vindo de um forró na saída da cidade para São João do Carirí, deu três topadas; uma nele mêrmo, outra no meio fio da esquina, e a terceira já foi caindo de cabeça dentro do depósito de lixo, ficando com a cabeça atolada no conteúdo do tambor, e o quadril dobrado na borda, com as pernas do lado de fora, de bunda prá cima, no exato momento em que vai passado Bastião Doido, com a cara cheia de vinho de gengibre. E Bastião, vendo o “presépe”, cambaleante, monologou em voz alta:
- Ôxente ?! Ispíi mêrmo! E uis pôvo daqui ainda diz qui o doido da cidade é eu; “butaro um C... nôvíin no lixo”!...