A PORTA

Frondosa e viva representante de sua espécie.

Nobre anciã imponente das serras do meu país.

Ceifada da terra mãe, cessou o correr da sua seiva.

Conjunto de partes da matéria um dia viva,

Talhada pelo formão do artista,

Recebeu outras partes de matéria desigual!

Mesclada de ferro e aço fundidos nas maçanetas e dobradiças!

Parafusos violaram a dureza da dignidade dos seus restos!

Em umbrais foi erguida uma arte sem vida!

Nobre imponência,

Restos em servidão!

Em meu poder o seu segredo.

A chave abre minha saída,

Fecha minha entrada no girar da mão!

Transformaram os artistas,

A arte viva em uma arte morta!

E da frondosa vida,

Restou apenas a minha porta!

E a quem importa se por ela passem as vidas,

De tantas entradas e tantas saídas,

Se não a vida que por ela passe?

E se me abro de par em par a vida da minha porta,

Ou se me fecho atrás do clamor dos seus batentes,

A vida não passa pelos restos fechados desta natureza morta!

A porta da minha casa não é a porta da minha vida,

Embora minha vida seja uma porta também!

Luiz Falcão
Enviado por Luiz Falcão em 22/08/2009
Reeditado em 13/11/2013
Código do texto: T1768110
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