A PORTA
Frondosa e viva representante de sua espécie.
Nobre anciã imponente das serras do meu país.
Ceifada da terra mãe, cessou o correr da sua seiva.
Conjunto de partes da matéria um dia viva,
Talhada pelo formão do artista,
Recebeu outras partes de matéria desigual!
Mesclada de ferro e aço fundidos nas maçanetas e dobradiças!
Parafusos violaram a dureza da dignidade dos seus restos!
Em umbrais foi erguida uma arte sem vida!
Nobre imponência,
Restos em servidão!
Em meu poder o seu segredo.
A chave abre minha saída,
Fecha minha entrada no girar da mão!
Transformaram os artistas,
A arte viva em uma arte morta!
E da frondosa vida,
Restou apenas a minha porta!
E a quem importa se por ela passem as vidas,
De tantas entradas e tantas saídas,
Se não a vida que por ela passe?
E se me abro de par em par a vida da minha porta,
Ou se me fecho atrás do clamor dos seus batentes,
A vida não passa pelos restos fechados desta natureza morta!
A porta da minha casa não é a porta da minha vida,
Embora minha vida seja uma porta também!