"Temos Fome"

LuizFalcão 20 de julho de 2009

Quanta dor! Quanto lamento!

“Temos fome!... Temos fome!...”

Assentada às calçadas descalça e quase nuas

Gemem encolhidas com as mãos às barrigas

Crianças que não sorriem, não brincam!

“Temos fome!... Temos fome!...”

Chuva fina e constante sobre elas desce,

Deixando as poucas roupas rotas que vestem

Grudadas em frágeis corpos desnutridos,

Voz fraca e tremulante de frio!

“Temos fome!... Temos fome!...”

Olhos grandes, feixe de ossos, cobertos de pele fria e enrugada!

E a mesma voz arrepiada em continuo gemido insiste...

Não cessa o suplício:

“Temos fome!... Temos fome!...”

Nos quintais vizinhos, cães comem filé!

Crianças nas ruas, comem vento e bebem chuva!

Quanta dor! Quanto lamento!

“Temos fome!... Temos fome!...”

Quadro grotesco de infortúnio!

Quem te pintou? Quem teu autor?

Não retratas um só sorriso

Nesta tua tela tão grande e cruel!

Nas mãos das tuas crianças,

Nem carrinho, nem boneca...

...Uma lata de cola!

Solvente das dores dos modelos de tua arte!

Onde estão as faces rosadas?

As dobras das perninhas?

Os pequenos pés que correm,

Divertidos no brincar?

Onde os escondidos,

Que contam até dez antes de procurar?

Onde está a farta mesa do almoço e a do jantar?

E os pais carinhosos ávidos nos afagos?

Onde está o canto de ninar, o angélico sono?

Quadro grotesco de infortúnio!

Quem te pintou?

Quem teu autor que me faz chorar?

Lágrimas de um sentimento incontinente

Deslizam na face, não dá para controlar!

Tanta dor e tanto lamento,

Nesta “Tela” que a vida faz questão de pintar!

“Tenho fome...Tenho fome”...

Luiz Falcão
Enviado por Luiz Falcão em 11/08/2009
Reeditado em 13/11/2013
Código do texto: T1749161
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