Na soma das partes...
...No abismo deste instante descobri que nasci.
Somente hoje eu nasci nesta praia onde há um mar revolto e, as ondas quebram apressadas.
Bebi da água só o que eu quis e pude, até sentir sede outra vez.
Nasci maior do que a soma das partes. Talvez eu tenha de sentir outro corpo, passar em outros átrios, atravessar os átomos nestas imagens impostas, expostas ao nevoeiro, e sob a terra encharcada, descobrir quem fui antes mesmo de entender quem sou.
Se ao menos tivesse eu um pano de fundo para cobrir a profunda realidade que é dura demais.
Que coisa horrível descobrir quem sou?
Sem hipocrisia, eu não me escondia atrás dos versos para garimpar na lama os raros cristais,
nem os mais caros diamantes.
Só queria escapar da minha própria censura enquanto sendo igual a todos,
aspiro como todo mundo o perfume da flor de alcaparras e busco só um esconderijo aonde eu possa ficar longe dos muitos de mim.
E, colhendo as flores na superfície, serei um alvo de pontaria de quem os espelhos vão rir,
Ser neste areal
um graveto, ou uma lasca de qualquer coisa que configura na maestria do silêncio
um silencioso mundo celestial.
Um brilho altera o horizonte num infinito passado, e o sol entre as sombras é facilmente reconhecido pelo cenário.
Pareço como um figurante distraído numa paisagem distante.
Se fosse mais um dia qualquer... Mas, não é.
Sei que todos os dias, eu vou nascer. Vou ver o mar novamente, experimentar o frescor da manhã. Ver o caminho de volta nesta estrada triste.
Quero caber dentro de cada dia, quero ter um sorriso leve, solto ao vento
..., ainda devo desejar passar pelas ruas dos sentidos, para em algum lugar a vida continuar sem muitas alterações, fiel a minhas próprias sensações,
mesmo no excesso de tristeza, a tragédia há de anunciar sem exceções, que não vai ser fácil atuar,
sem renunciar o tempo, sem controlar os limites das horas de amar
e, sem sonhar...
E como toda tragédia os acontecimentos são debilmente convincentes com argumentos veementes
e a vida,
sabiamente triunfa mesmo enquanto as pessoas não sabem
como o poema se rompeu...