UM EGOÍSMO FENOMENAL
Sempre que tento estabelecer
uma distância coerente entre
meu nascer e meu morrer,
desisto dessa tara de advinho.
O primeiro dado eu tenho.
Do segundo, nem quero ouvir falar.
A minha ressurreição já é verdade.
Sei que sou um morto do futuro.
Depois, serei um vivo do passado.
E o presente, por enquanto é agora.
E agora é tarde pra lamentar
tantas linhas de vida que apaguei
dos meus poemas insanos.
Nem adianta mais contemplar estrelas
e fazer de conta que escrevo o bem.
Nem quero mais fazer dezoito anos de novo.
Prefiro me reespirituar.
Deixar meu anjo de guarda de lado e
me adorar como entidade única.
Um egoísmo fenomenal.
Um egocentrismo ímpar, magistral.
Se eu não for o centro do meu universo,
ninguém o será por mim.