UMA OLHADA EM MIM

Dei uma olhada em mim e me senti um trapo.

Quantos anos lutando pra sobreviver e

escrevi poemas de amor de inconsequência total.

Quantas fomes evitei de passar e quantas

bocas entreabertas ... eu não vi mastigar.

Enquanto me deleitava falando de beijos e amores,

o mundo, que era pequeno, não tinha nem força

pra sugar leite do peito.

Na verdade, não tinha mundo e não tinha peito.

Eles tinham sido emprestados pros poetas modernos.

Que escreviam a perda de amores e paixões sufocantes.

Que não sabiam escrever mais nada que não fosse amor.

Quantos anos enxergando tudo e não vendo nada.

Quantos Recantos perdidos nesse mundão das letras!

Quantos poetas famintos em ser

e quantos leitores comparsas!

Uma olhada em mim, e um BASTA enorme,

de um milhão de decibéis. Mas...

Não adianta gritar. Os poetas continuam surdos

e só conhecem o som macho-fêmea.

Alguns, como eu, acordaram e de tão magros,

nessa realidade de fomes,

nunca mais cairam em si, sempre fora.

EDSON PAULUCCI
Enviado por EDSON PAULUCCI em 21/05/2009
Código do texto: T1607389
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