MEU INVENTÁRIO
Prefiro não fazer testamento.
Inventário é melhor.
Pior...Nem sei das cartas de amor
que escondi até de mim.
Aquele baú de beijos roubados.
Calhamaços com poesias de 15 anos.
Promessas de amor eterno por um dia.
Pedras preciosas devidamente devolvidas
todas as vezes em que tudo acabou.
Quisera fossem ao menos de zircônia!
Vão encontrar todos os meus imóveis
retratos, amarelados pelo tempo.
Alguns presentes que guardei de lembrança.
Algumas lembranças que guardei do presente.
O inventariante vai ter que ser forte.
Os bens de um poeta são tão intangíveis
quanto a tristeza de um quarto vazio.
E quando a morte chegar, que chegue
de mansinho, sem assustar os herdeiros.