UMA EXPERIÊNCIA DIFERENTE...-Matéria do Cantinho do Zé Povo-O Jornal de Hoje-Natal-RN-Edição de 02 de Maio de 2009.
Na estória de hoje, quero fazer um relato dos meus afazeres de quarta feira próxima passada, afazeres esses, que começaram na terça. Eu tinha uma apresentação marcada na Escola Agrícola de Jundiaí, em Macaíba; durante os festejos dos sessenta anos daquela escola, às 19 hs. da quarta feira, dia 29.04. Acontece, porém, como dizia o saudoso Patativa do Assaré, “uis ispíin do distino chega e fura a gente sem aviso ninhum”... Na terça feira à noite, depois de participar declamando nas festividades do terceiro Aniversário do Fórum de Ceará Mirim, onde meu amigo Rossine tinha armado nossa querida Budega Véia, recebi a notícia, segundo a qual, uma pessoa muito querida, dona Francisca Azevedo, lá de Cerro Corá-RN, chamada carinhosamente por todos que tinham como eu, a felicidade de privar de sua amizade, de Dona Nanan, havia sido chamada para prestar contas ao Nosso Pai Maior. Dona Nanan, era a mãe de minha nora Silvana; avó materna do meu netinho William; que lá, ao ver a avó dentro do caixão, na inocência dos seus seis aninhos, me perguntou:
- Vovô, o qui é qui vovó Nanan tá fazendo dento dessa caixa ?
Cadê eu ter forças ou palavras para lhe explicar o ocorrido ?! Tentei falar mas não conseguí; “deu um nó na gaiganta e num saiu foi nada, meu fíi”... Meu filho foi quem veio em meu socorro, explicou tudo, mas êle, meu netinho; não se tocou, pois nem sua inocência nem a misericórdia divina, deixaram que “a ficha caísse e êle assimilasse em sua mente de criança, o que estava acontecendo”... Ali, ao lado de minha Adele, fiquei imaginando e comentei com ela:
- O que será de quem ficar, quando um de nós dois for chamado pelo Criador ?
Ficamos sem resposta e naquele momento, eu lembrei de meu compadre Júlio Prêto, que costuma dizer:
- “Um casá qui se ama, num tem derêito de drumí cum raiva um do ôto”; a finada Mariquinha só tinha derêito a tê raiva d’eu ô eu dela, inté oito e meia ô no mais tardá, nove hora da noite; e se tivesse num forró, nóis já tinha qui chegá in casa “arreganhando uis dente”, um pru ôto...
Esse poeta “qui é mêrmo qui uma mantêga derretida”, prestou a última homenagem a essa pessoa querida, foi à bênção de corpo presente na Matriz da cidade, ao sepultamento e se mandou de lá às 17:30 hs. para cumprir com sua obrigação como preservador e divulgador da cultura popular nordestina. Minha apresentação na Escola de Jundiaí, estava marcada para sete horas da noite; e às sete horas da noite, meu filho me deixava lá na Escola, para fazer minha apresentação. Eu que jamais havia me apresentado, para fazer as pessoas sorrirem ou chorarem com meus poemas matutos, numa circunstância daquela; não imaginei poder dar tanto de mim como dei naquela noite (no bom sentido; é claro...)... Pedi apenas “um tempo” ao Carlinhos, encarregado da organização do festejo; e às 21 horas, numa das pausas da Banda Perfume de Gardênia, onde entre outros excelentes músicos, tocam meus queridos amigos Jubileu Filho e Bethoven, fiz minha apresentação. Não sei onde arranjei forças para ter o desempenho que tive; vindo de um velório e conseqüente sepultamento. As pessoas sorriram; se choraram não sei, na emoção que lhes passei durante as declamações dos meus poemas matutos. Parecia que ela, Dona Nanan, estava ali ouvindo eu dedicar-lhe minha apresentação daquela noite. E fui regiamente recompensado com os aplausos de quem ali se encontrava, do varredor ao Diretor da Escola. Fiquei tão tocado emocionalmente pelas circunstâncias daquela apresentação, que achei válido passar para vocês, meus queridos (as) leitores (as) a experiência diferente desse matuto “metido a besta e a escrevedô”...