ALGUNS FIGURAÇOS DE LAGES DO CABUGÍ-RN - Matéria do Cantinho do Zé Povo, d'O Jornal de Hoje-Natal-RN

No Dia da Poesia, a homenagem do Cantinho do Zé Povo a todos que fazem a mesma, seja ela popular ou erudita.

Deus é maravilhoso! Além de me dar dois dons maravilhosos, o da vida e o da poesia, me deu a oportunidade de encontrar “nais varêda dêsse mundão sem purtêra”, figuraços populares verdadeiramente incríveis em todos os aspectos que se possa imaginar. Mais ainda, me deu a capacidade de armazenar nas prateleiras da memória, por entre os neurônios que Êle misericordiosamente não permitiu que a cachaça comesse, essas figuras e seus “presépe” (Oh! Sodade de Maria Rita...). Num período da minha vida, quando eu ainda ingeria todas; as que tinha e as que não tinha o direito de ingerir; na década de setenta, fui tomar conta de duas pesquisas de schelita, uma em Lages do Cabugí, na fazenda Sulista, do saudoso Júlio Salviano; e outra em Paraú, na fazenda Cachoeira da Forquilha, do não menos saudoso Cel. Silvestre Veras. Nesses dois lugares, me deparei com “uma réca de personagens” da melhor qualidade, e aqui cito meu Mestre Ramiro Pereira da Silva, o Ramiro Capitão, em Lages; e em Paraú, cito mais dois Mestres da fuleragem, Sebastião Damasceno de Araújo (Bastos Macena), que graças a Deus ainda hoje está vivo e vendendo saúde ali no bairro de Candelária; e outro que não sei se ainda está batendo perna por aqui ou já se mandou “p’ru andá de riba”, e que só sei do apelido, que é o bastante para homenageá-lo, que é Louro, ex-motorista do Cel. Silvestre. Em Lages, além do querido e saudoso Ramirão, também me topei, com licença da palavra, com Milson Cego; com Deca, que trabalhou de garimpeiro comigo e mais tarde findou sendo “dono de um beréu de enézima categoria”, com direito a rapariga, fresco, luz vermelha e radiola de ficha; Luiz Asa Branca, pai do mecânico Chico Cabeção e que exercia a profissão de barbeiro; a exemplo de Chico Quelé, que além de barbeiro, também era oficial de justiça; Antonio Ernesto, que também era barbeiro e tio de Chico Maracanã, que ainda hoje, vez por outra se junta com “uis pêia mole” lá no Bar das Mangueiras, para degustar dos quitutes de Dona Vera e da “marvada” servida por Adriano. O saudoso Luiz Pinheiro, marido de Dona Verônica, dona do Hotel; Chico Bunitíin, que era morto e vivo no Cabaré de Pretinha, irmão de Bastião Cadú, o doido do qual já falei no Cantinho do Zé Povo, que queria por fim da força que o então Prefeito, o saudoso Pereira Primo “pegasse na sua chibata”, enquanto lhe aplicava uma injeção... Graças a Deus era de “gente desse naipe” que eu me aproximava, com uma imensa felicidade e um orgulho ainda maior, sem jamais imaginar que um dia eles seriam de tão imensa valia para meus escritos. Em tempo, registro que Chico Bunitíin e Bastião Cadú, eram/são sobrinhos do grande Zé Reinaldo, que já foi Vereador e Prefeito por várias legislaturas, uma figura humana maravilhosa. Certa noite, Chico Bunitíin jogou baralho até o amanhecer do dia, e quando ia prá casa, ao passar na Barbearia de Luiz Asa Branca, Luiz estava abrindo o estabelecimento. E Chico, querendo chegar em casa mais “bem parecido”, falou:

- Luiz, tira aqui minha báiba.

E assim que sentou na cadeira da “Ferrante São Paulo” para ser atendido, ferrou no sono... Luiz Asa Branca amolou a navalha uns cinco minutos, prá ver se a danada inda pegava corte, danou espuma na cara de Chico e mandou brasa. A navalha, de tão velha já quase não pegava corte, mas cortava o rosto do cliente sem dó nem piedade. E Chico, no sono ferrado, nem imaginava a desgraça da qual estava sendo vítima. Meu patrão; quando Luiz Asa Branca deu por concluída sua tarefa, pegou um “depósitozíin de aço inoxidável com um canudíin de borracha e um balão na extremidade”, cheio de “álcool canforado”, e sem qualquer aviso nem preâmbulo, barrufou de vez e com toda força na cara de Chico Bunitíin, que levantou-se de um pinote, qui nem pôrdo brabo e gritando.

- Me acuda; Luiz tá me matando!

Ao passar a mão no próprio rosto, a mesma veio empapada de sangue, o que aumentou seu medo e sua revolta:

- Acode, Zé Duda; Luiz Asa Branca me matô; eu acho qui murrí e mode eu num vim só, tu vinhesse mais eu p’ru ôto mundo!...

Bob Motta
Enviado por Bob Motta em 14/03/2009
Reeditado em 14/03/2009
Código do texto: T1485764
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