SERIA AZEDINHA?
Quase perdido em pensamentos
lá vinha eu me achando pela calçada esburacada.
Desvia daqui e dali. O moderar do passo não
reduzia a mágoa que sentia.
Algo que transcendia sentimentos.
Que sensação estranha aquela de ver
pequeninas flores amarelas me chamando
por entre as frestas da calçada.
Seria azedinha? Azedinha como este texto quase doce?
Quebra-pedra, é isso, flor de quebra-pedra.
De certo quebrou a pedra da calçada e surgiu assim,
linda, livre, exuberante, embora pequenina.
Parece que a vida é mais ou menos assim para alguns.
Mais adiante, um sabiá cavocando a terra em busca
de saborosas minhoquinhas.
Esse é feliz, pensei. A calçada não foi feita só para
pedestres. Os passarinhos também caminham por ela.
Passeiam também. Só que não ficam encucando.
Fazia tempo que eu não caminhava em chão tão agreste.
Fazia muito tempo que não encontrava tanta poesia
nessas coisinhas tão simples.
Seria azedinha a vida sem poesia?