O Construtor de Vagões III
Ferro-Aço
Fuligem
Ruído causado pelo atrito do ferro com o ferro.
Ruído agudo, que soa como um pedido de socorro.
O ferro solta um gemido
Sempre que se sente ameaçado ao corte.
Um gemido fraco e abafado.
É um som normal, explica o construtor, não tem como evita-lo.
Mas meus ternos ouvidos sabem que esse gemido é desespero.
Porque conheço muito bem o ferro e seu Fundidor.
Alguem ensinou ao ferro que ele não pode ser ferido por lâmina alguma.
Alguém disse ao construtor que ele é inatingivel e imortal. Talvez tenha sido o mesmo alguem. . .
A vida inimiga mortal dos viventes.
A vida.
O construtor pensa que está no mundo pra consertar, reparar e restituir
O construtor não sabe que necessita de reparos, remendas e arranjos.
Precisa mas a vida não o deixou saber o que é precisão, necessidade.
A vida o disse que ele podia ter tudo o que precisasse.
Mas ele não tinha.
E teria de ser preciso.
O precito construtor.
Evita pensar.
Pensa em seus vagões.
Não nos que se foram mas nos que fará amanhã.
O Construtor pensa não ter de lembrar dos que se foram.
Mais ele se engana, porque eu ainda estou aqui.
Laís Santiago Andrade