O Construtor de Vagões III

Ferro-Aço

Fuligem

Ruído causado pelo atrito do ferro com o ferro.

Ruído agudo, que soa como um pedido de socorro.

O ferro solta um gemido

Sempre que se sente ameaçado ao corte.

Um gemido fraco e abafado.

É um som normal, explica o construtor, não tem como evita-lo.

Mas meus ternos ouvidos sabem que esse gemido é desespero.

Porque conheço muito bem o ferro e seu Fundidor.

Alguem ensinou ao ferro que ele não pode ser ferido por lâmina alguma.

Alguém disse ao construtor que ele é inatingivel e imortal. Talvez tenha sido o mesmo alguem. . .

A vida inimiga mortal dos viventes.

A vida.

O construtor pensa que está no mundo pra consertar, reparar e restituir

O construtor não sabe que necessita de reparos, remendas e arranjos.

Precisa mas a vida não o deixou saber o que é precisão, necessidade.

A vida o disse que ele podia ter tudo o que precisasse.

Mas ele não tinha.

E teria de ser preciso.

O precito construtor.

Evita pensar.

Pensa em seus vagões.

Não nos que se foram mas nos que fará amanhã.

O Construtor pensa não ter de lembrar dos que se foram.

Mais ele se engana, porque eu ainda estou aqui.

Laís Santiago Andrade

Laís Andrade
Enviado por Laís Andrade em 01/02/2009
Código do texto: T1416533
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