O ROMANCEIRO - Uma viagem ao meu tempo de criança. MATÉRIA DO CANTINHO DO ZÉ POVO-O JORNAL DE HOJE-NATAL-RN, edição de 31.JAN/01 FEV 2009
Derna qui o Dr. Marcos Aurélio de Sá, o Comandante d’O Jornal de Hoje, me facultou esse espaço, o Cantinho do Zé Povo, além de tentar colocar um sorriso no rosto daquelas pessoas que dão a honra de serem seus leitores, tenta passar, paralelamente, uma mensagem de otimismo; sobretudo, de fraternidade e de calor humano. Mesmo quando os personagens de cada causo aqui narrado, “mete uis pé puras mão” e daquela toca existente nas profundezas íntimas de cada personagem, sai de “TUDO”; e aí é que está a graça, proveniente do inusitado. Pois bem! Quinta feira passada, dia 29 do mês que hoje se finda, estava eu, “cunversando miolo de quartinha” lá na Casa do Cordel, onde nós, poetas populares costumamos nos encontrar de vez em quando; e recebi o convite do meu amigo Kidelmir, pesquisador da cultura popular; e principalmente do “cangaço”, para naquela noite, ir assistir o espetáculo ROMANCEIRO, baseado nos antigos romances e canções cantadas por Dona MIlitana. Romances são poemas musicados, cujas raízes vêem da Idade Média, 476 – 1453 d.C, particularmente nos séculos das Cruzadas, 1096 – 1270. Esta é a fase áurea da cavalaria, em que a bravura dos cavaleiros cristãos deu origem às “canções de gesta”, que celebravam os grandes feitos, traduzindo em verso e canto, as aventuras dos cruzados. Eram longos poemas, com centenas de estrofes, transmitidos oralmente, antes do advento da imprensa e perpetuados fielmente, pela memória popular. Os romances existiram com outras denominações, em diferentes países europeus, mas foi em Portugal e na Espanha que eles ganharam maior projeção.O estudo do romanceiro no Brasil compreende duas grandes vertentes: O Romanceiro Ibérico, de Portugal e Espanha; e o Romanceiro Brasileiro. O Rio Grande do Norte, como os demais estados nordestinos, é rico, ainda hoje, em romances ibéricos e brasileiros. Meu caro leitor; a fonte dessa explicação que acabo de lhes passar, é Espaço e Tempo do Folclore Potiguar, do Folclorista Deífilo Gurgel. Vamos, então, ao espetáculo. Dona Militana Salustino do Nascimento, para os leitores que não são do Rio Grande do Norte, é um desses ARQUIVOS VIVOS da cultura popular nordestina. É a mais importante romanceira do Brasil, tendo sido condecorada pelo Presidente da República, Exmo. Sr. Luiz Inácio Lula da Silva em 2005. Nasceu em Barreiros, no município de São Gonçalo do Amarante/RN, no dia 19 de março de 1926 e reside no Sítio Oteiro, no mesmo município. O recinto estava lotado, as pessoas carentes e sedentas de beber daquela água cristalina e pura da fonte de nossas raízes culturais.
Dona Militana também estava presente, coroando de êxito e autenticidade, o maravilhoso evento. E os atores, atrizes, bailarinos e bailarinas não se fizeram de rogados (as); deram um verdadeiro SHOW DE ENCANTAMENTO para quem teve a felicidade de naquele local, se encontrar. Fiz uma viagem ao passado, pois do segundo romance até o décimo segundo, que foi a “jornada de despedida”, fiquei embevecido e emocionado. No quarto romance, O ROMANCE DE ANTONINO, não segurei a emoção; era uma das músicas que MAE MIANA, “pretinha cumo azeitona e mais doce qui a quixaba mais doce do sertão nordestino”, lá do Distrito de Traíras-Macaíba-RN e que ajudava mamãe tomando conta de mim e de minhas irmãs; cantava quando ia me botar para dormir, me balançando na rede. Também vibrei com O CÔCO DA LAGARTIXA, bem como ROMANCE DA MOÇA QUE QUERIA CASAR; e porque não dizer, com tudo que ali no TEATRO DE CULTURA POPULAR, nos foi apresentado. A todos vocês que fizeram o espetáculo, apresento, do lugar mais profundo do meu coração, toda minha gratidão. Vocês, todos, sem exceção; além de me levarem de volta à pureza e à felicidade do meu passado, fizeram eu chorar durante a apresentação, e, o melhor de tudo; fizeram eu voltar prá casa, sonhando com um mundo melhor...