NO POSTO DE SAÚDE DE BOA VISTA-PB - Matéria da minha coluna Cantinho do Zé Povo, d'O Jornal de Hoje-NATAL-RN, edição de 17 de janeiro de 2009
Um cabra que nem eu, que tem a mania de viver colhendo ”mungangas, presepadas e outros bichos” (esse é o título do meu segundo livro-Ed. de 1996-Esgotada...), acontecidas aqui e acolá, na lida do dia a dia das pessoas, sem outra pretensão que não seja a de dar um “impurrãozíin” na propagação da cultura popular, tem que estar atento, “cum uis zóio, zurêia e zuvido” bem abertos, sob pena de perder a oportunidade de armazenar na memória, verdadeiras pérolas, nos lugares mais inusitados possíveis. Os consultórios médicos são verdadeiros mananciais de causos pitorescos; principalmente os consultórios ginecológicos. Os ditos, cujos, referidos, como diria o saudosíssimo Cel. Ludrugero, são que nem fundo de quital, que dá de tudo; e em larga escala. Mas, nos postos de saúde do interior nordestino, na época em que esse causo se passou, havia só um clínico, que fazia as vezes de “melé de baralho”; ou seja, “o dotô era um faiz tudo; de curativo in dente inframado a parto”... E minha amada Boa Vista-PB, cidade da região do Carirí paraibano, que me adotou como filho, me dando o título de Cidadão Boavistense, pela divulgação da cultura popular nordestina; nunca foi, nem mesmo quando era apenas e tão somente um Distrito de Campina Grande-PB, uma exceção da regra. No posto de saúde de lá, “o dotô faiz tudo” era meu querido “AMIGO”, com todas as letras maiúsculas, Dr. Rosandro Aranha, que hoje é Pte. da Federação da UNIMED-PB; e que na época, era recém-formado. Seu pai, o saudoso seu Chico Aranha, ali era fazendeiro e porque não dizer, um benfeitor daquela comunidade. E essa “munganga”, quem me contou foi Mário Véio, ex-vaqueiro de meu pai e que hoje mora em Boa Vista. Pois bem! Num belo dia de sábado, após as primeiras chuvas do ano, estava nosso personagem na monotonia do posto, quando entrou Tonhinha, uma das freqüentadoras do forró que havia todo final de semana, numa grande “latada”, em frente à Churrascaria do Adajosa. Tonhinha era livre de canga e corda; e se existia uma pessoa “agraciada pela natureza nos seus dotes físicos”, essa pessoa era ela; parecia uma porda braba... Totalmente desprovida de obediência a qualquer convenção da sociedade, fazia o que bem entendia; ou seja, “pintava o sete e bordava o oito”... E nesse dia, ela chegou ao posto se queixando ao Dr. Rosandro, sobre uma dor que estava sentindo um pouco acima da “cara prêta”... E dizia ela:
- Dotô, eu num ando munto bem, não sinhô. Tô sintindo umas dô pruqui puro pé da barriga e tô munto preocupada, pidindo a Deus qui num seja um “canso”.
E Dr. Rosandro, com toda delicadeza e com toda paciência que Deus lhe deu, mandou que ela tirasse a roupa e subisse na cama ginecológica, enquanto ele ia lavar as mãos. Tonhinha fez o que êle pedira, e quando o mesmo voltou do lavatório, encontrou-a numa posição nada convencional para ser examinada. E, delicadamente, como sempre foi de seu feitio, orientou a paciente:
- Assim não da certo não, Tonhinha; você tem que ficar exatamente na posição em que manteve sua primeira relação sexual.
Tonhinha, sem se fazer de rogada, jogou imediatamente a cabeça para trás, fora da cama ginecológica, encolheu uma perna e estirou a outra para cima, tipo contorcionista de circo... E nosso querido Dr. Rosandro, indagou, surpreso e tentando segurar o riso:
- Ôxente, Tonhinha; essa foi a posição que você teve relação sexual pela primeira vez ?
- Foi sim, dotô; do jeitíin qui o sinhô tá vendo.
- Numa cama, minha filha ?
- Não, dotô Rosano; foi no banco trazêro de um fusquinha!...