CHUVA E SOL

Por entre abrunhos e caniçais, embrenho-me no

mato cerrado, tendo, por cima de mim, um céu

azul-escuro, que mais parece ameaçar chuva, e,

o rio, indiciando o tempo, que promete, reflecte

suas ondas, no espelho das águas, já um tanto revoltas.

Recolhidas, no cimo de um telhado, de uma de tantas

fábricas existentes, esperam as gaivotas a tempestade,

para se lançarem de pronto no peixe, que, por estas

alturas, de rio agreste, sempre vêm à tona, meio que

perdidos, ante tanta agitação e assalto continuado de aves.

Gruas enormes, em zonas industriais, suas cores amarelas

enegrecem, e, a ferrugem, começa a humedecer, à medida

que o tempo se torna mais frio e as primeiras chuvas,

desembocam gradualmente, salpicando tudo, à sua volta, até

que, como diluvianas profecias, intensa se faz a chuva, por fim.

Encontrando um velho casario, que a tempos, pertenceu a

pescadores, protejo-me o melhor que posso, da chuva,

enquanto pinto um quadro, de memória, de tudo que minha

vista alcança, esperando que a água não suba as margens do rio,

inundando as tábuas, onde me recolho, ouvindo belas melodias.

Pela antiguidade, das telhas, o já velho telhado, cede por todos

os lados, deixando que a chuva invada por ali adentro,

obrigando-me a improvisar, com a madeira ao meu dispor,

juntando-lhe algumas roupas, achadas caídas pelo chão, tentando

dessa forma, tapar os buracos, enquanto espero pela bonança.

O que a mim pareceu-me uma eternidade, molhado até aos ossos,

num repente, como que vindo do nada, tudo mudou, com o sol

a tomar exigências, no céu, que, aos poucos, foi clareando, em tons

bem mais clarinhos, e, tão logo, uma agradável sensação de calor,

invadiu todo o recinto e pude sair, estendendo minhas roupas ao sol.

Tranquilizou-se o rio, e, suas águas amenas, continuaram seu

percurso, que as levaria até à foz, um pouco mais abaixo, onde as

esperava os pescadores, que, se preparavam para sair, para a faina,

depois de uma manhã de chuva intensa, impedindo-os de sair, para

as águas, buscando seu sustento e o sustento, de sua família numerosa.

Vida de poeta ou de escritor não é fácil de todo, já que tem de vivenciar

estas coisas, e, senti-las na pele, perscruta-las, com olhos inocentes e

imparciais, como qualquer criança, descrevendo, seu dia a dia aos pais,

da melhor maneira que sabe, sempre com a verdade e alguma fantasia,

em sua dinâmica narração, onde todos podem sonhar, por momentos.

Jorge Humberto

10/12/08

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 11/12/2008
Código do texto: T1330073
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