palavras
você faz onda
se esconde
em mil e um argumentos
fala do vento
fala da morte
fala da sorte
diz que me ama
me chama na madrugada
me afaga
me beija
me enseja
mas tudo acaba aí
o seu tempo é escasso
é raro os seus minutos
me deixa na espera
naquela
do porvir
do que pode acontecer
o mundo que desanda
que tudo está a ruir
o sistema financeiro
a ciranda da bolsa
a onda da falências
a demência deste tempo
as sementes
de um novo mundo
a revolta
o vôo do pássaros
o aço das construções
as canções perdidas
os amores falidos
o cão que late
o mato que cresce
a esperança
a dança da solidão
tudo pode ser poesia
uma canção
se tiver sorte
mas o nosso caso fica assim
no “pause”
vira letra
vira treta irresoluta
uma labuta
uma história a construir
você faz onda
se esconde
diz que não há confiança
que homem é igual
que um lhe fez mal
etc. e tal
aquela ladainha
de quem não quer mais o amor
que a dor é sempre uma rima
perto
que o certo é relativo
que há motivos pro sim e pro não
que nem todas as canções
são de amor
que há protesto
revolta
revolution
que tem bob Dylan
e tantos poetas diletantes
tantos amantes perdidos
tantos elos partidos
que o mundo é assim
cruel e sincero
que tudo é quase zero
e pouco resta pra evoluir
e eu me pergunto
o que isto interessa
o que nos resta
senão o carinho
o mesmo sentido do passarinho
de ficar no ninho
e trocar um beijos
tocar a pele
no arrepio de um momento
pra que lutamos?
por quem fazem a guerra?
pra que servem palavras
se o amor é impossível
e a desconfiança predomina?
se a mina não tem mais água pura
se tudo pode ser risco
se a droga corre solta na veia
e o vírus percorre as artérias do mundo?
o que isso tem a ver comigo
contigo?
e eu só quero teu amor
tua entrega
o aconchego do teus braços
num só laço contigo
quanto perigo enfrento:
trânsito
assalto no semáforo
o dia-a-dia
o emprego
o perigo da crise
o riso tão pouco
o sufoco de não saber terminar o que começou
por isso fico por aqui
boa noite
bom dia
que a alegria prevaleça um dia
e o amor seja mais fácil, de verdade
que não haja risco
moral
que tudo seja tal e qual a realidade
só verdade
só crueldade