O TEMPO
Então eu vi o tempo dormindo.
Poeta, jamais ousaria acordá-lo.
Pensei em deixá-lo sonhar,
vislumbrando ponteiros parados,
ampulhetas de areia estática e
recordes desoficializados.
Que roncasse também o suficiente
e esquecesse de abrir os olhos.
Se ele ficasse assim, muitas
invenções não teriam mais sentido.
Nem fórmula um, nem olimpíadas,
nem futebol, nem nada.
Dava até pra jogar fora tantos
cremes anti-rugas. Os vinhos seriam
todos muito bons e as mulheres sempre
jovens.
Os bebês seriam bebês e flores não
murchariam. Nem seria mais preciso
escrever poesia porque a vida já
seria uma linda poesia fotografada
através das lentes da alma.
Então ele abriu os olhos e acordou.
Ainda bem que deu tempo de salvar este texto.