Em silêncio mortal
Pedras despenhadeiro abaixo
Ferro chorando sob fogo
Facão golpeando mármore
Uma mão empedernida apertado coração
A água a destruir estradas
Levando carros e casas
Senhores e senhoras aos gritos
Chamando José que sumiu na enxurrada
Sementes caídas no chão
O tempo alisando sua face
Grandes troncos rebentando o solo
As raízes, grandes garras,
As profundezas da terra agarradas...
Nasce o menino em meio a noite
É de chuva forte no interior a canção
Que o recebe no mundo
E o menino rola como as pedras
Desce em desespero, Se afogando,
Pelos rios Miarim e Corda, misturados...
A morte o beijou muitas vezes
E muitas vezes ele a vislumbrou...
Todos lhe praguejam o destino
Mas ele tem suas raízes na esperança fincadas
Ainda não sabe
Todavia é uma ave que não se pode prender,
É de um quilate que não se pode compreender,
E mais enigmático fica sob os lustros passando
Cabelos em desalinho
Barba por fazer
Uma forma de dizer
De dizer o que não podem entender,
E assim a noite vem caindo
Numa erma passagem é possível
Vê-lo caminhando,
Seus pés já velhos
Em meio à madrugada
Destroem a estrada
Em que vai em silêncio mortal pisando...