Em silêncio mortal

Pedras despenhadeiro abaixo

Ferro chorando sob fogo

Facão golpeando mármore

Uma mão empedernida apertado coração

A água a destruir estradas

Levando carros e casas

Senhores e senhoras aos gritos

Chamando José que sumiu na enxurrada

Sementes caídas no chão

O tempo alisando sua face

Grandes troncos rebentando o solo

As raízes, grandes garras,

As profundezas da terra agarradas...

Nasce o menino em meio a noite

É de chuva forte no interior a canção

Que o recebe no mundo

E o menino rola como as pedras

Desce em desespero, Se afogando,

Pelos rios Miarim e Corda, misturados...

A morte o beijou muitas vezes

E muitas vezes ele a vislumbrou...

Todos lhe praguejam o destino

Mas ele tem suas raízes na esperança fincadas

Ainda não sabe

Todavia é uma ave que não se pode prender,

É de um quilate que não se pode compreender,

E mais enigmático fica sob os lustros passando

Cabelos em desalinho

Barba por fazer

Uma forma de dizer

De dizer o que não podem entender,

E assim a noite vem caindo

Numa erma passagem é possível

Vê-lo caminhando,

Seus pés já velhos

Em meio à madrugada

Destroem a estrada

Em que vai em silêncio mortal pisando...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 09/04/2008
Código do texto: T938585
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