A Imagem da Imagem a me mirar

Não sei quem sou, tenho idéia ainda muito embrionária sobre isso, mas gosto que me digam, que falem de mim, ou para mim o que querem dizer de mim, independente da natureza do adjetivo, ou adjetivos, bons ou não, são sempre bem vindo, porque é através do que me dizem que faço, vou construindo a idéia sobre mim mesmo, e isso leva tempo, visto que poucas pessoas me falam, e eu também falo com poucas pessoas, todavia, no silêncio das noites internas a cada ser, naquelas obscuridades que existe, faz temer o ser que a carrega, muitas vezes andando sozinho invento de falar às sombras que se escondem, aos vazios que se fecham, aos abismos que se enchem, e falo ainda com muitas coisas, nem todas têm nome, e muitas vezes, cansado de conversar com esses seres amigos, eu me deparo comigo, no grande lago das coisas passadas, e a cada momento a água é salpicada, por presentes mortos, e aí vai todo tipo de pensamento, sonhos e desejos... E comigo a me olhar, eu mergulho no olhar de quem me olha, e lá dentro outro mundo encontro, diferente do meu, do que poderia imaginar, então eu penso no que sou eu, esse corpo não é meu, nem essa voz, nem as lágrimas que pude derramar... Ali dentro me ponho a imaginar, e falo com o silêncio frio que ali há, e umas sombras se recolhem como se não quisessem se revelar... Mas eu sei, digo eu sem saber o que digo, não tenho referência suficiente sobre isso, todavia, como dizia, eu sei que se pudesse em todas as partes obscuras desse dalínico lugar, lugar abstrato que nem toda mente pode alcançar, se eu pudesse todos os silêncios desenrolar, e vir os gritos que há neles, e as canções que pensei cantar, que compus em segredo, quando gritava de medo, de medo de não me encontrar... Se eu pudesse me jogar nesses abismos, sei que alguma coisa iria me aparar, mas eles se enchem, se fecham, as estalactites se dobram para não me machucar... Ah, nesse mundo ocular em que entrei também deve algum lago habitar... Foi isso que pensei, e no pensar me transladei, e a beira de um infindo lago azul claro eis que me vi a me fitar, mas não era eu, eu estava lá fora no lago do esquecimento a me olhar, todavia ali outra figura, a imagem da imagem a me mirar, a claridade era de origem desconhecida, mais parecia com uma aurora, e lago não tinha lembrança nenhuma, eram suas águas cristalinas, e sua profundeza maior que a do mais profundo abismo do mar, o lago era maravilhoso, quem o visse jamais se cansaria de contemplá-lo, como uma coisa que esperamos, no entanto o tempo passa, e nós continuamos a esperar, confiantes de que o que esperamos um dia chegue, mesmo que toda realidade grite afirmando que nunca vai chegar... Parecia o lago da esperança, não sei... Tentei ver através dele meu passado meu presente, mas nada... Ah, se eu mergulhasse nessas águas! Foi o que pensei, e na velocidade do pensamento mergulhei, e nadei e nadei, e vi tudo que tem para ser visto, tudo eu vislumbrei, e fui ao seu mais profundo abismo, ah eu me saciei, por que aquelas águas pareciam ser mágicas, e diante dos olhos que não eram meus, mas através dos quais o via, toda a máquina do mundo eu perscrutei, e passaram anos e anos, um esquecimento tomou contar de mim, e eu sem saber quem era, uma imagem da imagem como aquela, ali me deti e pensei se sou um pensamento, pode ser que eu nada sou... Assim fiquei a vagar por aqueles lugares lares e nunca mais voltei...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 06/04/2008
Código do texto: T934500
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