Cinzas e horas
Eu sou um eterno fogo
Queimando sem parar
Que não se sabe de que se alimenta
Mas quando nada tem
Minha alma vem queimar
E agora estou assim
O fogo no vazio não se faz
Não posso conte-lo
Não sou capaz,
Se o apago também morro
Então o alimento de mim
De meu ser temporal e fugaz
E o que sobra
Cinzas e horas
É ainda outra coisa indefinida
Essa coisa é que é linda
Porque em qualquer outra se transforma
Noutro ser
Noutras coisas vivas e mortas
E todas elas eu conheço
Da mais reta a mais torta
São reflexos de minha mente
Do ser que fui
Lembranças do eu das cinzas
Renascentes
Quando não tenho mais o que queimar
E ouço de minha alma os últimos
Gritos de terror
Abandono-me
E vou pro espaço
Pro espaço eu vou
Mas quando a temperatura está amena
Minha alma
Um ser que pena,
Mas que jamais morre
Não tem visão pequena
Ressurge mesmo dali
De onde ninguém poderia imaginar
Que um ser mais puro pudesse surgir
E então me lanço outra vez no mundo
Mas não vou pelas beiradas
Vou pelo meio, por cima, pelo fundo
Não vivo a vida de forma enganada
Eu sou extremo, sou profundo
E vou atrás de amor
Visito todas as áreas
Ermas ou habitadas
E converso com as pessoas
E Sombras
E bichos e arvores e pedras
Como em busca de pista da coisa procurada
E pode levar o tempo que for
Muitas vezes já morri
E ainda posso morrer
Mas por amor
Minha alma será eternamente
Reavivada!