Eu não existo

Eu não existo

Isso é apenas o que eu sei ser

Estou dentro de um pensamento

Só a imaginação me tenta descrever

Mas não consegue

Não tenho nenhuma feitura

A arte não pode me conceber

E tudo que por aí anda grafado

Desde de milhões e milhões de séculos

Foi tudo feito por outro Poder

Eu mesmo não estou me escrevendo agora

Nada de disso me é nem pode ser

Os ecos que se ouvem

Não sou são nem de meus gritos

Nem de meus ciciares

Não sou eu

Não são meus

Não posso ouvi-los

Apenas você...

Levo o corpo que digo ser meu

Por não ter outra forma de dizer

A passear em muitos lugares

A beber e a comer

A se vestir

A se perfumar

A pentear os cabelos

Ou a dormir numa praça

Perto de uma pessoa que amo

Porque assim deve ser

É um retrato

Minha manifestação

Que pega te cumprimenta com a mão

Mas eu mesmo ninguém pode saber

Apenas eu estou dentro dos meus pensamentos

Que aliás nem meus são

Porque eu não existo...

Uma parte de mim é da Terra

Outra não sei de onde veio

Não sei para onde vai

E o que digo é apenas o que já existe

E.esse dizer não parte de mim

Não sei de quem é

Nem me indago de quem seja

Isso não me preocupa mais

Porque eu não existo

Não estou aqui entre essas artes

Tudo que sou um dia não será mais

As saudades que sinto

Os trabalhos que me distraem

As amizades e inimizades

Os erros e acertos

Os amores e os desprezos

Não me ativem

Não estou ancorado em lugar nenhum

E a essência que o eupoético forma

Que o faz escrever

Lhe trazendo milhões de inspirações a cada segundo

É tudo dele

Ele se transforma

Ora ri

Ora chora

Tem saudades...

Porque eu não existo

O que existe é o que está fora

Dentro do corpo tudo é terra

E o que o anima é a poesia metafísica

Impalpável aos sentidos

Elide a mim e a meus irmãos

Ao rico

E ao ladrão

Ao homem e a mulher

Aos animais e as plantas

A matéria e as ondas

A tudo

Apenas um é

E não sou eu

Porque eu não existo

Não tenho lugar no mundo

Como é bom não ter lugar

Porque ninguém volta

Tudo vai

Tudo se desfaz

Os astros e as filosofias

Os saberes e os conhecidos

Um dia estamos só

E é neste então de onde falo

Nenhum quando é

Nem pode ser

Porque eu não existo

O que vêem não sou eu

As amarguras dos erros que me invadem o coração e a alma

Mesmo em momentos de calma e silêncio

Ou se berro e vitupero

São apenas manifestações

Do eupoético

Que é uma definição

Mas eu mesmo não assumo nada

Porque eu não existo

Eu ao sofro nem me alegro

E não admito ser feliz...

É necessário ser muito egoísta para ser feliz

Mas eu ao sou

Porque eu não existo

Não estou aqui e nem lá

Nem vivo e nem morro

Porque para isso é necessário o tempo

E eu, eu mesmo sou Imortal

Por isso eu não existo

Para existir é necessário está dentro de um tempo

Ter começo e ter fim

Ninguém sabe o que é a Eternidade

Não há medida

E essa que digo ser minha vida

É só uma força de expressão...

Não gosto de quem diga que sendo também me é

É você também

E aquele outro

É o átomo

E o que tem em si tem também é nós...

Não,

Nada do que há em mim há em ninguém mais

Cada um é diferente por dentro por fora e por íntimo

Incomparável

Imensurável

Ninguém pode ser tomado como unidade de medida de outros

Ninguém

Não sou nem o mendigo nem o louco

Nem o escriba

Nem o refinado

Não sou ninguém

E duvido que alguém me seja

Mesmo em ínfima parte

Porque eu não existo

E assim é com todos

Só na inexistência há autenticidade...

Como é ridícula aquela Saudação a Walt Witmann!

Como é bom não existir.

Como não é bom não existir.

Ah eupoético só você para me expressar...

Para não me expressar.

Porque eu não existo...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 03/01/2024
Reeditado em 03/01/2024
Código do texto: T7967856
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