Quando a vontade está perdida

Eis que em hora morta

Veio bater-me à porta

Uns punhos que não quis conhecer...

Três batidas contidas,

Três batidas insistidas,

E um manter-me por trás escondida

E eu sem nenhuma vontade de as saber...

 

Não é que não goste de visitas

É minha forma de viver esquisita

Assim às vezes sem querer a vida

Aqueles que querem me ver...

 

Minha casa desarrumada,

Onde cada coisa está em qualquer lugar

Não é um ambiente onde qualquer

Um possar entrar,

E às vezes nem eu mesmo consigo lá me encontrar...

Tão torto progreso parece este lugar...

 

Às vezes vou a padaria,

Tomo café com pão como se fosse outra mercadoria

Como se não fosse eu, distribuo bons dias

E nisso constitui toda minha socialização...

 

Gosto de contar os passos

Em silêncio vou caminhando

De casa me afastando

De casa me aproximando

Mas nunca sei o número que vai dando...

 

Sinto frequentemente um ser me acompanhando

Pode ser só meu pensamento se desvirando

É então que começo a me identificar

Com aqueles que a razão foi abandonando...

 

Três batidas na porta

Uma voz me gritando

E eu em silêncio fico esperando

Que ninguém mais esteja me aguardando...

 

Não quero conversar,

Nunca se fala do que se estar passando,

Por isso o silêncio é a resposta que vou dando

Ao ser que sempre me está acompanhando,

E a esses que abrir a porta se vem acumulando...

 

Nunca estou em casa,

E a causa é que minha alma está sempre sonhando.

Eu prefiro os entes que à minha

Mente, viscosamente se vão revelando...

 

O resto é só a morte me esperando...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 07/12/2023
Reeditado em 10/12/2023
Código do texto: T7949230
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