Quando a vontade está perdida
Eis que em hora morta
Veio bater-me à porta
Uns punhos que não quis conhecer...
Três batidas contidas,
Três batidas insistidas,
E um manter-me por trás escondida
E eu sem nenhuma vontade de as saber...
Não é que não goste de visitas
É minha forma de viver esquisita
Assim às vezes sem querer a vida
Aqueles que querem me ver...
Minha casa desarrumada,
Onde cada coisa está em qualquer lugar
Não é um ambiente onde qualquer
Um possar entrar,
E às vezes nem eu mesmo consigo lá me encontrar...
Tão torto progreso parece este lugar...
Às vezes vou a padaria,
Tomo café com pão como se fosse outra mercadoria
Como se não fosse eu, distribuo bons dias
E nisso constitui toda minha socialização...
Gosto de contar os passos
Em silêncio vou caminhando
De casa me afastando
De casa me aproximando
Mas nunca sei o número que vai dando...
Sinto frequentemente um ser me acompanhando
Pode ser só meu pensamento se desvirando
É então que começo a me identificar
Com aqueles que a razão foi abandonando...
Três batidas na porta
Uma voz me gritando
E eu em silêncio fico esperando
Que ninguém mais esteja me aguardando...
Não quero conversar,
Nunca se fala do que se estar passando,
Por isso o silêncio é a resposta que vou dando
Ao ser que sempre me está acompanhando,
E a esses que abrir a porta se vem acumulando...
Nunca estou em casa,
E a causa é que minha alma está sempre sonhando.
Eu prefiro os entes que à minha
Mente, viscosamente se vão revelando...
O resto é só a morte me esperando...