[do outro lado da ponte]

I

Sete vezes no inferno

o poeta sentiu

a dor da morte

Sete badaladas

dos dois sinos

com seus hálitos

Na saída,

na entrada,

na sensação enlouquecida

de estar à própria sorte

Traga,

Prende,

Solta,

Volta,

Grita

E sofre.

II

Perde de novo,

perde o poema,

perde o amor

Traga,

Prende,

Solta.

Volta.

III

O poeta perde o todo,

o poeta perde tudo,

o poeta se perde

no sofrimento absoluto

de quem se repele

e se exercita

Três passos pra baixo,

Um passo pra cima

Traga,

Prende,

Solta.

IV

Rente às mãos

correntes da realidade

que não deveria

A realidade

do inferno de vida

que o poeta renuncia.

V

O pé cratera

no chão quente

que arde

ao descobrir

a desinocência

de ser gente.

VI

A passagem

expedida à sexta-feira

se desenha

na assinatura do ponteiro

que permanece inerte

por uma volta inteira.

VII

Traga,

Prende,

Solta.

Volta?

Nota que o retorno

é a loucura de quem segue

tão habituado a viver morto

que tenta voltar,

mas não consegue.

Elizabeth Gomes
Enviado por Elizabeth Gomes em 11/02/2023
Código do texto: T7717092
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.