Sem pensamentos...
O que eu queria mesmo era não ser
Fez o meu ideal de felicidade
Não ser
De modo que isso se apagasse
Do meu pensamento
Apagasse também Todo pensamento
Que outrem teve de mim
Não ficasse a mais mínima lembrança
E de repente alguém
Se perguntasse
Em que estava pensando?
Era em mim
Era em mim que me fui
Que fui ser feliz?
Porque estou cansado
A existência exaspera-me
E não quero mais brincar
Imaginar que existe um mel
Que um dia vou encontrar
E seu sabor vai refazer o meu sorriso
E fazer brigar nos olhos
E fazer me sentir leve livre...
Eu não quero mais brincar.
Não quero mais provar
Daquele inefável mel
Eu quero e não ser
Sem desejo
Sem desânimo
Sem pensamentos...
Eu não quero mais
Ouvir meu um sonoro pensamento
Ficar rabiscando a madrugada
Escrever poemas sonolentos
E depois desanimar quem crê
Que acredita que existe o mel
Mágico que cura todos os males...
Eu não quero mais carregar
Esse conhecimento do amor
Esse falso conhecimento
De ouvir falar
De criá-lo a partir de sua necessidade
Não quero experimentar mais
O placebo que fiz
Com substâncias amargas
Para suprir aquilo que quis
Não, chega,
O que queria mesmo era desexistir
Fazer o mundo girar para trás
E voltar a ser criança
E voltar para o ventre de minha mãe
Que também voltava a ser criança
Que voltava também...
Assim se desfaria a minha carne
Assim eu seria não ser
E esse seria o meu mel
Tão invisível quanto o seu...
2005