E SE CRISTO, NEGRO FOR?
Grilhões, açoites, frio e desgraça, fizeram da cor preta da pele, a maldade de um existir, a culpa de ao menos vir tingido em escura cor.
Arrancados dos lares, dos principados, do seio da sua família, separados dos súditos, das suas crenças, dos seus valores culturais, do beijo da sua amada de lábios e seios fartos.
Não mais pátria, não mais liberdade, não mais canções, não mais gozos prazerosos e ao invés de colares para ornar em brilho, o pescoço, resta-lhe, agora, a coleira de ferro, as algemas em suas mãos e pés, que o impede de correr e seguir livre nos campos da sua pátria tão amada e agora, não mais sua, pois jamais retornará ao mundo que um dia lhe pertenceu.
Jogado em porões de navios, mercantilizado tal qual bicho de algum valor, para quem pouco valor lhe dava, sendo assim, comercializado por um miserável mercador de vidas, um ambicioso sem alma e sem humanidade.
O choro, a saudade, a lembrança e a prece implorando por justiça. Justiça...
Mas que justiça? Quem ouvirá a prece e a voz de um preto, antes livre hoje escravo?
Acalenta-me em sonhos e pensares, como se querendo amenizar a dor física e espiritual, um pensamento vago, pois o meu pensamento, não aceita correntes e em mim, talvez seja nesse momento, a única parte do meu existir, que eles não podem aprisionar. Fervilha em mim um pensar: E SE CRISTO, NEGRO FOR?
Que adiantará a brancura da tua pele, se fizera sofrer a pele negra de um irmão, que mesmo sendo preto, também é filho de Deus?
Quando Cristo voltar a essa terra, qual será a tua desculpa, ou a quem irás culpar?
E, se Cristo, negro for?