Divagações

De janela aberta

Em plena madrugada,

Ouço a chuva amena

Que me traz recordações:

Recordações de hoje

De ontem

Da infância

Do ventre materno

De outras vidas.

São tantas e tão confusas

Que já não sei

Se são minhas só;

Ora sou um menino,

A correr descalço

Pelas ruas da infância;

Ora sou um romano

Das conquistas galenas;

Ora sou um velho

Curvado sobre o cajado,

Contando aventuras

Que já viveu;

Ora sou um animal selvagem

A dominar seu reino;

Ora sou um penhasco

Avançado sobre o mar;

Ora sou o próprio mar,

A multiplicar mil vidas.

Pelos três reinos me vejo passar:

Como uma semente,

Uma flor,

Um cetáceo;

Como um menino,

Um homem,

Um deus.

Como uma chama a iluminar

A noite que se acabou!