EU SANGRO E NÃO É DE HOJE... (um poema perdido na garrafa do tempo)
eu sangro e não é de hoje
já foram tantos socos
mas nenhum me acertou o queixo
ou me pôs na lona
sinto-me vazio
e esse rio é meu exílio
eu não sou daqui
e você não está mais em mim
a falta transborda
e o teu beijo
não cura nem envenena
tuas pegadas na areia
são miragens alucinatórias
e agora eu digo não
meu cavalo selvagem
arrebentou a rédea
e deu coice às cegas
- cavalo ferido fere muito mais -
minha memória masturba a saudade
que cospe um cheiro morno
de amor mal passado
e o desejo ejaculado gera fantasias
que inventam carnavais
sem época ou lamento
meu bloco vai passar desfalcado
sambo com o pé esfolado
invento alegrias momentâneas
e recebo o aplauso pela sobrevivência
eu sangro e não é de hoje...