DESCIDA

(Poema premiado no III Prêmio Literário Canon de Poesia 2010, entre 3457 textos inscritos)

No começo

os dias eram

atemporais.

Consciências orbitavam

próximas às amêndoas,

faziam-se espelhos à alma já desperta.

Um Ser Total

transcendia o limite das mãos,

pois estas não aprisionavam:

Libertavam!

Os dedos

contavam as Luas

sem o emocionalismo mortal.

Colhiam perfeitas flores

ao nível do Pai e do Filho,

tão distantes e tão próximas

do Espírito Santo...

Mas agora

tudo está diferente...

Algo pulsa furiosamente

dentro do peito.

Sentimentos afogam e adormecem.

Os corpos são prisões.

Nossa salvação

morre em vasos plásticos.

O ponteiro massacra

e a Voz Interior

é feito um mecânico tic-tac.

A Roda de Samsara

nos engoliu!

E cada vez que os dedos

contam a si mesmos,

chora a Criança Interior.

(in SUBLIMAÇÃO, Mottironi Editore, 2016, p. 104-105)

Eduardo Jaques
Enviado por Eduardo Jaques em 05/06/2017
Código do texto: T6019493
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