DESCIDA
(Poema premiado no III Prêmio Literário Canon de Poesia 2010, entre 3457 textos inscritos)
No começo
os dias eram
atemporais.
Consciências orbitavam
próximas às amêndoas,
faziam-se espelhos à alma já desperta.
Um Ser Total
transcendia o limite das mãos,
pois estas não aprisionavam:
Libertavam!
Os dedos
contavam as Luas
sem o emocionalismo mortal.
Colhiam perfeitas flores
ao nível do Pai e do Filho,
tão distantes e tão próximas
do Espírito Santo...
Mas agora
tudo está diferente...
Algo pulsa furiosamente
dentro do peito.
Sentimentos afogam e adormecem.
Os corpos são prisões.
Nossa salvação
morre em vasos plásticos.
O ponteiro massacra
e a Voz Interior
é feito um mecânico tic-tac.
A Roda de Samsara
nos engoliu!
E cada vez que os dedos
contam a si mesmos,
chora a Criança Interior.
(in SUBLIMAÇÃO, Mottironi Editore, 2016, p. 104-105)