Carta para uma Gueisha
(para Margareth e Lenine)




Teus olhos amendoados e gentis inspiram o coração e a alma de poetas
Em gestos leves e macios de brancas mãos imaculadas...
Ah, Gueisha, quisera ser teus olhos. Ou mesmo tuas mãos.
Ou mesmo ser qualquer outra coisa que não esses dardos desvairados
Que são as janelas de minh'alma, fogo e vento e turbilhão
E a chuva que descamba de um céu inútil, ruidosa e irrestrita
Quando grito a um mundo desamado e desamante que sou eu
Sim, sou eu, sem gentileza ou sutileza ou qualquer outra máscara
Com a qual me pudesse disfarçar a  loucura da lucidez!
Céus, por que se vos abristes à torrente que sou eu?
E por que tu, ò Terra, não me cerraste no teu ventre, quando caí?
Não. Continuei a me escorrer, res derelicta em solo estranho.
E tu, Gueisha? O que não daria eu para te ser!
Mas nasci para alimentar sonhos - e nenhum deles meu.
E oferecem os amantes minhas crias às bem-amadas
Às Gueishas e Houris e Amazonas e Anjos e Demônios
Porque não sou nem jamais fui o sonho de ninguém.
Apenas o meu, sem que jamais bastasse.
Tecelã e fiandeira, faltou-me até o consolo das Nornes -
O direito de me cortar o próprio fio...
 

 
Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 28/11/2016
Reeditado em 05/12/2016
Código do texto: T5837130
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