EU NÃO SOU ESTE NEM O OUTRO

Eu não sou este nem o outro,

Sou qualquer coisa de premeio –

Ponte de passagem entre mim e o outro.

Sou todos e sou nenhum, voz de enleio

Que vai de mim para o outro.

Falta-me aqui um golpe de asa,

Para ser o homem em sua plenitude.

Quase tudo e quase nada, em toda a sua vicissitude.

Ah, quem dera, aqui, sumptuosa casa,

A momice de quem por lá passa.

Queria ser toda a voz restrita e calada,

Acabar com as religiões e sua farsa.

Ser a prostituta que cala na noite,

Quando esta está para aí virada.

Ser o escroque, o ladrão, marinheiro de água doce,

Que se retempera como num açoite.

Quisera ser o mendigo perdido de si mesmo,

E encontrado a golpe de foice.

Eu não sou este nem o outro,

Sou algo que se procura de esmo a esmo –

E vai deste para o outro.

Jorge Humberto

16/05/07

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 17/05/2007
Código do texto: T490788