Resgate

Na boca das mamoranas

a noite amadurece,

irrompe em múltiplas papilas,

resvala nos muros encardidos

confundida com as pontas de cigarro

apagadas na urina

e com o asfalto esburacado

da avenida,

resumida à velocidade

que os pneus lhe dão

e aos passos clandestinos

de que se alimenta.

O silêncio depois é tão grande

que chega a derrubar as flores,

a desafiar as pedras,

o frio.

Engasgado nos sapatos

anda a disputar os homens.

Assume então a consistência

das sombras,

o assédio das sombras

que nos usam e se disfarçam

para despistar a claridade.

Alastra-se pela cidade inteira

até que o braço da aurora

se estenda

reavendo seus reféns.

Kissyan Castro
Enviado por Kissyan Castro em 20/09/2012
Código do texto: T3891787
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