Na boca das mamoranas
a noite amadurece,
irrompe em múltiplas papilas,
resvala nos muros encardidos
confundida com as pontas de cigarro
apagadas na urina
e com o asfalto esburacado
da avenida,
resumida à velocidade
que os pneus lhe dão
e aos passos clandestinos
de que se alimenta.
O silêncio depois é tão grande
que chega a derrubar as flores,
a desafiar as pedras,
o frio.
Engasgado nos sapatos
anda a disputar os homens.
Assume então a consistência
das sombras,
o assédio das sombras
que nos usam e se disfarçam
para despistar a claridade.
Alastra-se pela cidade inteira
até que o braço da aurora
se estenda
reavendo seus reféns.