Rotatória
O bálsamo que não suaviza
A ferida que não fecha
Sobre nuvens o fogo sacro
De dúvidas a oração ascende
Aos céus a desobrigar faíscas cênicas
Não caberiam no fim de uma lenda fria.
Tudo em si transborda
Pelas páginas enumeradas dos dias
Amarelam vidas cíclicas
Enraizam respingos de argila por todos os poros
Nas faces infindáveis dos cadáveres das obsoletas certezas
Brotam rosas mortas entre frestas
Na alma uma amplidão de céticos
Palavras esmurram portas em vão
Vozes se arvoram a alardear sortes por todos os cantos
- lama, olhos e línguas- secam-se ao sol.
Trocam-se os cadeados, bordam novos enígmas, estilhaçam sofismas,
Violam sepulcros e levam seus vasos
Disfarçam trincheiras com rotos galhos
E as pontes vão ficando para trás
Nem rotas de rodas, nem buzinas
Nenhuma bicicleta, nenhum movimento
Nem pedestres, nem pensamentos
As árvores cresceram indelicadas e os silêncios também.