Perfídia
Ainda que não sejas uma vil criatura,
Fecundo da escória da podre humanidade,
Ainda que teus olhos encenem honestidade,
Eu verei teu rancor pungir nossa brandura.
Ainda que teu âmago esconda a tempestade,
Que em tua boca se cale uma reles bravura,
Eu verei nos prados a morte da alvura,
Ainda que radiosa, sucumbir à tua maldade.
Jamais verei brotar um só ramo carmim,
Ainda que os anos dissipem a tempestade,
Que em terras revigoradas brotem os alecrins,
Jamais eu verei brotar nossa tardia mocidade.
Ainda que nosso peito seja inteiro apaziguado,
Que o sonho destroçado seja reconstruído,
Sempre lembraremos teu horrível bramido,
E por tua perfídia sempre serás lembrado.