dEUs
Deus, dEUs, DEUS,
Tu me castigas com
Tua nebulosa
Tendência
à inexistência.
Eu, que insisto
em querer tua presença,
Invisto, por instinto,
Contra o não visto,
O jamais nítido,
o ilíquido.
Me dirijo, impreciso,
Procurado por teus abismos,
Teus labirintos
que criam a
fumaça vaga
da minha intempestiva
Querência
por crenças e delírios,
Delírios lindos,
sejam místicos
ou fugitivos de suicídios,
Delírios vindos
Do meu anseio
pelo divino.
Eis aqui
minha incoerente busca
por alguma certeza,
Por alguma verdade palpável,
Documentada, inquestionável,
a respeito de forças plenas
e de seres em eternas excelências;
Esta minha ingênua
Vontade de outras coisas,
além das sempre mesmas,
Que não encontra abrigo,
Nem nas rotinas, nem na ciência.
Minha ansiedade pelo que é sagrado
e poeira
Nutre-se de muitas insuficiências,
Por isso a matéria anêmica
Que só apalpa coisas que acredita
Serem esperanças
E talvez sejam só insistências
Impondo-se burras ou heróicas,
Sem dúvida, pequenas,
Contra a forte e vazia
Futilidade
Da existência.
Deus, dEUs, DEUS,
Aqui está aquele que
Nem mesmo conseguiu
Ser ateu.
Aqui está o que permanece
Preguiçosamente
Ajoelhado neste solo
de pedras quentes,
Tendo acima dos ombros
Um obscuro instrumento
Recheado de memórias
insignificantes.
Cego de ti
e deste misto de fantoche
e fantasma
Que habita meu cadáver
escravo dos óbvios,
Surdo de tua voz
e do eco destinado a mim,
Pateticamente, inevitavelmente,
Procurando sem desejo, nem nojo,
Sem medo, nem gozo,
Mas também muito longe
Da resignação dos religiosos,
Alguma coisa indefinível
Que dê motivos
ao meu tristonho caminhar,
Que soa desprovido
de sentidos
E não consegue voltar
aos sonhos.