dEUs

Deus, dEUs, DEUS,

Tu me castigas com

Tua nebulosa

Tendência

à inexistência.

Eu, que insisto

em querer tua presença,

Invisto, por instinto,

Contra o não visto,

O jamais nítido,

o ilíquido.

Me dirijo, impreciso,

Procurado por teus abismos,

Teus labirintos

que criam a

fumaça vaga

da minha intempestiva

Querência

por crenças e delírios,

Delírios lindos,

sejam místicos

ou fugitivos de suicídios,

Delírios vindos

Do meu anseio

pelo divino.

Eis aqui

minha incoerente busca

por alguma certeza,

Por alguma verdade palpável,

Documentada, inquestionável,

a respeito de forças plenas

e de seres em eternas excelências;

Esta minha ingênua

Vontade de outras coisas,

além das sempre mesmas,

Que não encontra abrigo,

Nem nas rotinas, nem na ciência.

Minha ansiedade pelo que é sagrado

e poeira

Nutre-se de muitas insuficiências,

Por isso a matéria anêmica

Que só apalpa coisas que acredita

Serem esperanças

E talvez sejam só insistências

Impondo-se burras ou heróicas,

Sem dúvida, pequenas,

Contra a forte e vazia

Futilidade

Da existência.

Deus, dEUs, DEUS,

Aqui está aquele que

Nem mesmo conseguiu

Ser ateu.

Aqui está o que permanece

Preguiçosamente

Ajoelhado neste solo

de pedras quentes,

Tendo acima dos ombros

Um obscuro instrumento

Recheado de memórias

insignificantes.

Cego de ti

e deste misto de fantoche

e fantasma

Que habita meu cadáver

escravo dos óbvios,

Surdo de tua voz

e do eco destinado a mim,

Pateticamente, inevitavelmente,

Procurando sem desejo, nem nojo,

Sem medo, nem gozo,

Mas também muito longe

Da resignação dos religiosos,

Alguma coisa indefinível

Que dê motivos

ao meu tristonho caminhar,

Que soa desprovido

de sentidos

E não consegue voltar

aos sonhos.

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 14/09/2011
Reeditado em 22/09/2011
Código do texto: T3219034