Poços em Poço
Sonhei que estivera aos pés de um cruzeiro,
No alto de uma serra, sobre o manto do sertão.
Sobre meus pés um verde vasto e derradeiro,
Meu olhar sobre o horizonte pairava na imensidão.
As corredeiras do riacho embalavam meu âmago,
posto aos sonhos estupefatos dum lirismo colossal.
Na estampa da água um premeditado o relâmpago
Num gracejo estridente do mergulho matinal.
Supostas casas, moradas da estirpe mais cálida,
Palacetes inebriantes acomodando brandura.
Voluptuosas meninas nas esquinas pálidas,
Ao deleite de titãs que definham tua candura.
Caudalosas correntes deste riacho voraz,
Sobre o tórrido olhar dos sóis de dezembro.
Paixões tão ávidas como se um fogo perspicaz,
Queimasse na fronte a saudade que não lembro.
Sonhei com a saudade e a dor deveras pungente,
Depreciava minha alma como a aurora da manhã,
Fluía sorrateira sobre minha pele cadente,
E na alvorada derradeira uma febre terçã.
Sonhei com o cruzeiro no alto da serra,
Vigilante protetor de um vale valioso,
Acolhedor de um povo de olhar misterioso,
Capaz de depredar tua própria terra.
Por dois faustosos tostões cegaram de vaidade
Os olhos imaculados dos filhos do torrão.
Deixam trilha de cobre e lesão na posteridade,
Serpentinas engrenagens mergulhadas em teu chão.
Na terra de Poço, poços se abrirão,
Em nome do progresso deveras tardio.
Em "Poço de Fora" poços de fora estão,
De resto meu sonho vindouro e vadio.
Obs.: Poço de Fora é o nome de um distrito do município de Curaçá-Bahia.
Carlos Roberto Felix Viana