Tíquete

Passa o cartão,

Passa você,

Tudo num vão,

Até esquecer.

Introduz na máquina,

Passam ali várias pessoas,

Tem eletrônica fala,

Engole tudo e até enjoa.

Algumas vezes vomita,

Cospe tíquetes ao vento,

São regurgitamentos de vidas,

Que tiveram ali naquele tempo.

O horário que gastamos,

É depositado no mecanismo,

Assim nos registramos,

Para depois aquele real ser engolido.

Gente que anda por ali,

Passos rápidos do cotidiano,

Um constante ir e vir,

Às vezes um agarra por engano.

Mecânica que absorve momentos,

Contabilizando as temporalizações,

O homem se vê um instrumento,

Daquelas numéricas cotações.

O ticket ao se expor,

Expõe a vigilância sobre o sujeito,

Ao sair e recompor,

Justifica com pagamento o que tenha feito.

Todos aqueles papéis ao longo de um dia,

Quantas vidas representam depositadas,

Um cofre que existências acumularia,

Desfazendo-se daquelas vívidas personas descartadas.