O Fim do Mundo

A profecia dizia,

O fim do mundo chegara,

Logo a virara notícia,

Muita gente desesperara.

Alguns profetas,

Com mãos para o alto,

Falaram que essa época,

Já tinham previsto, de fato.

Os religiosos,

Pegados à oração,

Prestimosos,

Fazendo sua devoção.

Os mais materialistas,

Procuravam um furto imediato,

Talvez algo resistiria,

Queriam garantir algo mais prático.

Crianças chorando,

Por conta do drama adulto,

Velhos se conformando,

Já estavam no fim nisso tudo.

Políticos prometeram fazer alguma coisa,

Uma ninfomaníaca queria atender quantos pudesse,

Teve briga de morte, gente que ficou doida,

Uns não acreditaram, outros que isso ninguém merece.

Mas um homem apareceu,

Olhou para os apavorados,

Com rigor ele procedeu,

Disse que isso é de bom grado.

Falava com voz calma,

Dizendo ao povo sobre a tragédia,

Que essa era a hora,

Não se poderia adiar coisa tão séria.

Disse que tudo tem um sentido,

Que o que nasce tem que morrer,

Que os homens já haviam conhecido,

Sobre esse modo que ele chama viver.

A condição do que vive é perecer,

Como tudo que há nesse mundo,

Achar que fugiria num milagroso proceder,

É apenas um fantasioso absurdo.

Lévi-Strauss disse que o mundo existe antes de nós,

Que existiria quando nós não mais aqui estivéssemos,

A realidade segue sua natureza, nada disso é atroz,

Nós que como crianças queríamos dadivosos préstimos.

Talvez alguém sobreviva,

Outra forma de vida emergente,

Isso pode ser apenas teoria,

De um evolucionismo prepotente.

Esse nada pode ocorrer,

Sem mundo, sem homem,

Nisso eu consigo crer,

Aparece num dia e noutro some.

O cataclisma será amahã na hora do almoço,

Vou acordar tarde para morrer dormindo,

Ou acordar cedo e aguardar todo aquele alvoroço,

Ou estarei almoçando um franguinho frito.

Vai acontecer independente do que eu faça,

Escapa a nosso vão antropocentrismo,

Vamos contemplar de camarote a dita desgraça,

Sumir num momento apocalíptico.

Algum fragmento será arqueologia vindoura,

Comporemos especulações de uma pré-vida,

Talvez nos façam de divindades redentoras,

Quem sabe pensem que fomos civilização evoluída.

Mas nós que vivemos esse momento impetuoso,

Sabemos que fomos poeira desintegrada,

Nossa arrogância num milésimo de segundo tormentoso,

Passa à calmaria de conformidade forçada.