O Fiel
Sentado no banco da igreja,
Escutando a oratória do padre,
Sem saber ao certo o que era com certeza,
Imaginando onde estaria em mais tenra idade.
As pessoas prestando atenção no culto,
Muitos conversavam baixinho,
Vez ou outra era possível ver um vulto,
Algo se esgueirando no corredor sombrio.
E pensar que já professaram em latim,
Deveria ser muito mais empolgante,
Quando matavam hereges, dando fim
Aos ditos pecados de um tempo infame.
Agora resta apenas a ladainha de um velho,
Que nem acompanhou a mudança social,
Assim como a organização decrépita do clero,
Tudo não passa de uma tentativa de sobrevida ritual.
As mocinhas com suas saias longas,
Loucas para levantarem as vestes,
As beatas inrustidas, recatadas donas,
Todos buscando fugir da vida ao que parece.
Esses saiotes de sacerdotes é engraçado,
Mantos que escondem o sexo pedófilo,
O templo é todo luxuoso, bem ornamentado,
Enquanto pedem que sejamos caridosos.
Olho pro altar e vejos esses santos parados,
Com poses de sofrimento, algo bem indigesto,
O corpo do messias fica macabramente pendurado,
Ainda nos oferecem seu corpo e sangue de séculos.
Fui batizado pela tradição seguida por meus pais,
Não estudei no catecismo como quiseram,
Agora venho aqui por hábito, motivos banais,
Sem ter nenhuma fé nos milagres que alegam.
O padre empolgado fala sobre a importância da oração,
Ele questiona quem nunca rezou, porque estaria ali?
Nesse instante veio em mim a grande revelação,
Nada daquilo fazia sentido, realmente o que fazia aqui.
Me levantei no meio da oração,
Um senhor me olhou com reprovação.
- Que se foda esse cordeiro cristão!
Vou tomar uma cerveja e ler alguma ficção.
Chegando em casa, olhei pra Bíblia,
Dei um sorriso de desprezo,
Comi um pedaço de pizza fria,
Um arroto e estava satisfeito.
Os prazeres da vida são tão simples,
Que importa saber o motivo de antes ou depois,
O tempo passa mesmo que não acredite,
Aproveito esse momento que entre ontem e amanhã se interpôs.