Liberdade
Fala-se tanto de liberdade,
De se fazer o que quer,
Mas penso que de verdade,
Ser livre é querer a ponto de fazer.
Acha-se que é estar provido de direitos,
Mas direitos implicam deveres,
Se devo, como posso estar liberto por inteiro,
Antes renunciar a esses contituídos poderes.
Alegam que nossa escolha não é controlada,
O problema são as opções que escolhemos,
Elas se apresentam de forma pré-ordenada,
Nos resta apenas acatar uma delas sem julgamento.
Mas o homem possui o livre arbítrio,
Mas é divinamente imputado,
Então somos reféns de um árbitro metafísico,
Sartreanamente-livremente-condenados.
Os mais audaciosos dizem que podem morrer,
Mas é condição de quem vive ao nascer,
Mesmo abreviando o momento de perecer,
Ainda seguiria uma prévia lógica de proceder.
Do amor então nem se fala,
Escravos maiores que os apaixonados,
Se existe um maior, Eros cala,
Marionetes de sentimentos romantizados.
Montesquieu deveria ter razão,
Livre é quem age de acordo com a lei,
Pois age dentro de uma constituição,
Preso como outros mais na escrita me libertarei.
Mas as letras nos privam ainda mais,
Nelas nem somos nós, mas um signo simulado,
A liberdade seria falsa demais,
Seríamos libertos em um sentido deteriorado.
Até no sentido figurado a liberdade tem asas,
Está presa às penugens e ao poder gravitacional,
Podemos apreendê-la numa única pronúncia,
Até mesmo como lembrança de um defunto casual.
Alega-se sobre uma forma de ser livre,
Livrando-se de sua vida, acontecimento depois da morte,
Não sabemos se isso de fato existe,
Assim apenas jogamos a liberdade para um plano que não há quem note.
Como é difícil ser livre, nem livrando-se de si,
Mas acredito que exista um momento que escape,
Aquele relance que nem percebemos num existir,
Esse nada entre o que sou ou deixo de ser, nele creio, vive a liberdade.