Os Óculos

Quem usa óculos é cego,

Pois as lentes simulam a visão,

Mas o ver sem eles é incerto,

Dependerá da patologia em captação.

Mas cegos são tantos outros,

Pois enxergar é uma cegueira visível,

Iludidos por certo prisma no olho,

Apreendemos algo não muito sensível.

Somos impressionados pelo que captamos,

Mas a impressão é uma outra forma de pressionar,

Impressionáveis a cada instante nos tornamos,

Vamos cedendo de forma impressionante ao observar.

Nossos olhos postiços,

Sobrepostos sobre a retina,

Com seu aspecto de vidro,

Dão foco a luminosidade retida.

A visão é tão mentirosa,

Que até finge esconder a armação,

Passa despercebida a divisória,

Vez ou outra até derrubamos por distração.

A vista cansada recebe sua bengala ocular,

Que será carregada pelo nariz e orelhas,

Os olhos vão mal e outros órgãos irão pagar,

Caridade corporal é isso, com certeza.

Quiseram diminuir o óculos,

Por isso criaram lentes de contato,

Essas ficam em cima dos olhos,

Objeto estranho que incomoda de fato.

Com esses olhos envidraçados,

Parecemos uma figura caricata,

Mas sem o romantismo de olho vazado,

Que tão bem representa o pirata.

Temos um falso olho que nada vê,

Enxerga como antes de colocá-lo,

As tonalidades são para entreter,

Os cegos enxergam com mais tato.

Quem usa óculos está no meio,

Não é um cego em absoluto,

Também não enxerga por inteiro,

Fica retido nesse divisor de mundos.

E pra completar, quando se faz amor,

A providência é tirar logo os óculos, com tudo,

Não porque possa temer quebrar o visor,

É que coisa tão boa assim é gostoso fazer no escuro.