A Roupa

A roupa cobre o corpo,

Que é revestido por peles,

Pelos e mais artefatos envoltos,

Tudo isso se torna veste.

Cobrimos o que cobre outro tanto,

Pois as carnes são sobrepostas pela tez,

Músculos, o sangue escondido circulando,

E nós preocupados com o que se despe.

Mas não nos despimos de nossa essência,

Poderíamos nos ver ao contrário,

Talvez nus, o mais profundo seria a pele nessa sequência,

Vividos de dentro pra fora num fato trágico.

Abrigamos tantos outros microorganismos,

Mas necessitamos expor a estética do vestir,

Velando o corpo de pecados de religiosismos,

Criando mais camadas sobrepostas ao existir.

Não dizem os espiritualistas,

Que a própria matéria envolve a alma,

Ainda existiriam outras roupas metafísicas,

Será que o chamado deus também se orna?

Creio, não em um adereço de fetiche,

Mas uma necessidade por deficiência,

Pois nos desanimalizamos com requinte,

Cada vez mais dependentes de alguma ciência.

Nos vestimos de homens agora,

Haverá um dia que teremos outros adornos,

Até lá nos regozijamos com as calçolas,

Cobertos para escamotear nosso ultraje de tolos.