O Calendário

Como é instigante olhar a folhinha,

Aqueles números bem ordenados,

Num momento tentamos dar serventia,

Depois embaralhamos os símbolos estáticos.

Uma tentativa de delimitar o tempo,

Cada dia sendo devidamente programado,

Uns marcam datas por divertimento,

Outros agendam compromissos com enfado.

Existem as marcações diferenciadas,

Que denunciam uma data atípica, feito feriado,

O nosso aniversário cravamos o olho com graça,

Já os outros tantos ignoramos de forma espalhada.

O charme de ir arrancando as páginas,

Como se fossem momentos da vida deixados pra trás,

Algumas ficam nas geladeiras grudadas,

Existem as encadernadas para uma utilização didática.

Cada ano elas surgem, mesmo com estética diversa,

Vão nos fazendo recordar do que há por vir,

Também provocam nostalgia ao recordarmos das antes destas,

Hoje estamos no topo dela e amanhã no fim.

A tradição do comércio é dar-lhes de presente,

Para nos lembrarmos de lá retornamos,

Cumprirmos nossos hábitos de consumo vigente,

Tudo se torna tão habitual que o ardil ignoramos.

Por difamação, estereotiparam as oficinas,

]Dizendo que nelas reinam os calendários,

Com fotos de mulheres esbeltas e totalmente nuas,

Como se certos ambientes tivessem incentivo erotizado.

A tecnologia logo se apropiriou desse sistema,

Existem nos cantinhos do monitor o calendariozinho,

Há quem busque logo uma pomposa agenda,

Outros discretamente portam no braço um relóginho.

Assim vamos contando a vida que não se dá conta,

Matematizando o instante que desejamos apreender,

Magnetizados pelo calendário solar que ao passado remonta,

Projetados num ciclo temporal que nos condiciona a viver.