As Formigas

Quando vejo estes seres pequeninos,

Andando de forma rápida pelo solo,

Não dando importância aos nossos destinos,

Caminham em fileiras em meio a destroços.

As formigas inspiram,

Dizem que possuem,

Organização, socializam,

Ideais que nos iludem.

Sempre desajemos humanizar a natureza,

Já o fizemos ao dizer que se chama natural,

Pois o mundo age independente da destreza,

Com que o homem o batiza de forma fenomenal.

Com força hercúlea, cada formiga carrega,

Seja um outro inseto abatido,

Quem sabe um resto de comida na panela,

Carrega tudo para seu esconderijo.

Sua morada é escondida por que nos colocamos,

Acima de camadas telúricas que não temos acesso direto,

Mas estão acima de esferas que nós também ignoramos,

Como estamos abaixo do céu e coisas acima, por certo.

Regozijamos com o que chamamos trabalho,

Mas estes formicídeos não são proletários,

Apenas seguem o instinto sem nenhum salário,

Desejam sobreviver por conta de um desejo pragmático.

Sua ordem visa proteger o local de reprodução,

O ninho que é guardado a todo custo,

Até se jogando ao fogo para salvaguardar a população,

Preservação contra toda forma de intruso.

Talvez pelo aspecto diminuto,

Agem de forma coletiva,

O ataque pode ser destrutivo,

Sua picada causa até alergia.

Olhamos de forma arrogante,

Esmagamos de forma insolente,

Mas se por um instante somos imprudentes,

Nos atacam e não há pisada que aguente.

Suas fileiras andam pelas paredes íngremes,

Parecendo beduínos pelo deserto,

Sua formação parece militar, com seus títeres,

Numa marcha frente a um desafio incerto.

Algumas são dotadas de asas,

Podendo patrulhar os céus acima do terreno,

Com sua longevidade limitada,

Cada instante torna-se decisivo para o desenvolvimento.

Existem tipos variados, conforme a diversidade de raças,

Umas que com simples soprada isolamos,

Outras que podem contar-nos com uma boa picada,

Multiplicam-se em proporção que nem imaginamos.

Se fôssemos levar em conta o índice populacional,

Dessas espécies de menor proporção,

Perderíamos a supremacia do mundo animal,

Relegados ao mando desses seres de farta reprodução.

Himenópteros de um ordenamento invejável,

Com uma socialização rígida, de castas,

Aparato estruturado com uma eficiência incontestável,

Delimitado por rigidez imposta pela prática.

Quiséramos ser tão sistemáticos,

Menos metafísicos, com nossos devaneios,

Pois esse é o não pensar sábio,

Apenas seguindo a sina de uma geração que veio.

E se somos destruídos entre triturar uma folha,

Ou ao carregar uma fração de um alimento apodrecido,

Estaremos arrebatados do mundo da mesma forma,

Que qualquer desses racionais humanos que se acham esclarecidos.

O verdadeiro microcosmos em relaçao ao homem,

Mas que poderia ser macro em comparação à bactérias,

A referência é determinada pelos valores que nos consomem,

Um estereótipo alicerçado pelo parâmetro vivo da matéria.

A relatividade do que somos e do que as formigas são,

Pode ser tanto elaborada por Einstein e suas temporalidades,

Como um Darwin munido de sua teoria da evolução,

Mas restará a analogia destes seres em sua materialidade.

Será que somente o Hinduísmo e outros cultos orientais,

Tomaram conhecimento da valorização deste mundo "micro"?

Não que seja preciso imaginar que sejam nossos ancestrais,

Bastaria o respeito entre iguais num mundano ciclo.

Que se o Samsara existe, eu possa voltar como formiga,

Ignorando toda essa falsa onipotência humana transportada em divino,

Telúrico nas entranhas do solo que me servirá de guarida,

Absoluto, mesmo esmagado por solado arrogante sobre mim soerguido.