A Caneta
Escreveu por diversas mãos,
Através dela se fazem expressar,
Vou rabiscando cheia de razão,
Sou uma impressionista singular.
Fabricada em forma serial,
Atendendo demanda de produção,
Algumas são confeccionadas sem ifual,
Arte de astuto e nobre artesão.
Interessa o fim que me dão,
Posso ser romantica para os apaixonados,
Expondo versos em carinhoso cartão,
Quem sabe um mimo afetuosamente presenteado.
Dando formas a caligrafia,
Com linhas ou em lauda branca,
Corpo formando sentidos de escrita,
Exposta de forma rígida ou mesmo branda.
Mesmo com a tecnologia,
Escritores fiéis não me abandonaram,
Nem por computadores, datilografias,
Gostam de me sentir, até me adornaram.
Crio calos nos dedos ávidos por escrever,
Cuspindo minha tinta que varia a cor,
Até o fim do meu fôlego de preencher,
Salvo alguma falha de fabricação, pra meu amargor.
Deixo-os orgulhosos com uma bela assinatura,
Suas rubricas caprichadas destacam,
Documentos passam por meu aval de consulta,
Cartórios sabem o valor e me resguardam.
Nas igrejas estou ao lado dos livros sagrados,
Por mim se decretam nascimento e óbitos,
Alguns comigo burlam, causam vestígios adulterados,
Também nos hospitais auxilio de receitas a laudos.
Comigo as primeira spalavras surgem,
O aprendiz começa a se alfabetizar,
A educação precisa de mim, alguns querem que isso mude,
Mas vou resistindo ao tempo e me faço respeitar.
Existem verdadeiros artistas que me usam,
Ajudo a compor versos e colorir desenhos,
Até pessoas sem mãos adaptam-se e não me recusam,
Sou um belo adorno para os mais atentos.
Odiosos me jogam e me quebram,
Uns me balançam com os dedos leves,
A ilusão ótica deixar pensar que nos vergam,
Parecemos amolecidas, brincadeira de moleque.
Estouramos feito pessoa com raiva,
Sujamos tudo com a tinta esparramada,
Coisa de caneta rebelde e inusitada,
Surpreendemos os que pensam dominar nossa parafernália.
Somos variados tanto na estética,
Quantos nos mecanismos diversificados,
Umas são de clique e repetições certas,
Outras com tampinhas e adereços perfumados.
Podemos rabiscar a própria pele,
Escrever o bilhete do suicida,
Preencher aquele viçoso talão de cheques,
Quem sabe nunca ser usada, num gaveta, esquecida.
Escrever e rabiscar por cima da escrita,
Rasura grosseira que tenta borrar o já feito,
Seja por motivo vulgar ou grave delito,
Sempre procura-se uma solução, dar um jeito.
Existem canetas com mais de uma carga,
Um tipo de múltiplas personalidades,
Sem contar quando possuem funções variadas,
Hermafroditismo útil pra quem gosta de novidades.
Canetas de diversos tamanhos,
Com prendedores para ser portátil,
Umas são valiosíssimas, causam escândalo,
Sem contar as baratas por exploração de mão-de-obra fabril.
Passamos de mão em mão,
Seja or solidariedade ou cavalheirismo,
Desculpa para chamar a atenção,
Quem sabe a função de atender no trabalho, coleguismo.
As cartas ainda são grandes motivadoras,
Aquela letrinha que procura formas mais belas,
Desejo de impressionar leituras vindouras,
Preenchemos cada cantinho, até as laterais, com palavras ternas.
Pode se tornar uma arma,
Mas é preferível ofertá-la como gesto de afeto,
Esses versos contém apenas uma forma de observá-las,
Mas quando sentires uma caneta entre os dedos, escreva com empolgação de libertos.
Escravos foram libertados por canetadas,
Presos condenados por sentenças assinadas,
Ainda que a tecnologia venha, temos assinatura digital, computadorizada,
Legado de objeto escrevente atribuído ao contrato com deus e o diabo, antropologicamente humanizada.