Uma Madrugada

É noite que se finda

Anúncio precoce do amanhecer,

Um despertar para o novo dia,

Começa escuro para depois o sol nascer.

O dia também se finda na penumbra,

Talvez imite a vida,

Quando obscurece o sentido de gênese, realidade muda,

Ou um “quem sabe para onde vamos pós vida”.

A madrugada se torna limbo,

Nela perambulamos numa ruptura,

Alguns dirão que é tempo mítico,

Outros compreenderão a trágica fissura.

Ouço um som que parece chamado,

Coruja que se faz ouvir no ambiente,

Seres de hábito noturno, nem tanto recatado,

Existem inclusive os que os temem.

Aquela brisa mais densa que desce,

Muitas vezes cobre de neblina o vidro,

Aquele sereninho que escorre e arrefece,

Atmosfera suspensa fora do cotidiano corrido.

Aquela seriedade dfos trabalhadores noturnos,

Respeito pela noite ou entrega ao cansaço,

Enfrentam o sono com ar taciturno,

Alguns são mais excêntricos, empolgados.

Os olhos avermelhados denunciam,

Morpheus é impiedoso e a medicina avisa,

Quem deixa de dormir, morrerá, assim anunciam,

Mas os teimosos não se acovardam diante de tal briga.

Uns insistem que impera o silêncio,

Mas apenas o barulho excessivo cessa,

Podem apreciar uma audição sem tormento,

Umas vezes até se assustam por um zunido que não se espera.

A cordialidade passa a se tornar marcante,

Talvez pelo temor de estar menos sociável,

De madrugada menos gente serve de acompanhante,

Durante o dia temos um ar mais impetuoso, desagradável.

Quando grita a voz impera,

Parece até fazer eco,

Por não haver barulheira oposta que impeça,

Nessa caso falamos baixo, é o mais certo.

Claro que existem os boemios,

A madrugada é sua feliz morada,

O dia para eles é fatídido tormento,

Aguardam ansiosos cada noitada.

Muitos dormem sem presenciar esse espetáculo,

Aproveitam a vivência do sono,

Entregues ao relaxamento aparentemente estático,

Nem se incomodam com notívagos encontros.

Esquecem que fechar os olhos é mergulhar na noite,

Nyx habita dentrod e cada um de nós,

Excluímos o exterior, para que no interior fosse

Possível madrugarmos de forma invertida, a sós.

Na noite todo gato é preto,

Na madrugada o bichano é cinza,

Entre claro e escuro, prefere o meio termo,

No fim, as cores não passam de ilusão, visão de mentira.

Um uivo de cão solitário eclode,

Parece preencher-nos depois do filtro auditivo,

Um anúncio de um dia passado que é morte,

Prenúncio do vindouro ainda a ser vivido.