Quando me deito II
Quando alta noite me deito
E começo a pegar no sono
Sinto de leve um abandono,
Minh’alma sai para explorar
Mundos impossíveis de visitar...
Os meus olhos vão com ela,
Vai a vontade de me libertar...
Fico e observo duma janela
Minh’alma a se distanciar...
Ela é um item da Relatividade,
Para ela não há esquecimento,
Do passado vai, sem dificuldade,
Ao futuro, se lhe der contento...
Certa vez, em suas veleidades,
Ela encontrou os extra-seres,
Difusos, cheios de bondades,
Cheios de essências, de poderes...
Podiam sarar a dor humana,
E dar sentido ao nosso viver,
Ao coração só, de quem ama,
Que de solidão vive a sofrer...
Ela sentiu incomum felicidade,
Numa áurea de nuvens diluídas
Sentiu que não estava perdida,
E pediu, “Levem-me a eternidade!”
E os singelos anjos disseram
Gentilmente, “terás que voltar...”
E ela viu que se entristeceram,
Porque eles a queriam levar...
Surgiam, á distancia, raios solares
E àquela realidade se desfazia,
Como num sonho, tudo se repartia,
Sob a calma de meditativos olhares...
Ela viu-se em veloz retroceder
Enquanto sentia grande comoção
A observar devagar desaparecer
Os extra-seres de olhos de solidão...
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Sentiu calor, sentiu que era o sol
E percebeu que a pouco seria dia
Já sublimava o diminuto o arrebol
E que longe o meu ser se remexia...
Senti a cama, percebi-me a acordar,
As pálpebras começaram a tremer...
Mas minh’alma não quis retroceder
E até hoje anjos vive a procurar...