POEMA E O PEDIDO
Ontem me disseram: “faz um poema”
A afirmativa me atormentou,
porque não se faz poema...
Ele sai da caverna quando
é chamado pela voz da linguagem.
Calei-me e me fiz ouvir os cânticos
das palavras... Ainda confuso
quase desisti; mas, os poemas
não gostam de seres fracos...
Insisti... e quando menos percebi...
... nascia uns traços tênues de corpos,
corpos que desejamos... que nos fogem.
Fui amando cada um com fúria
e calma, e subitamente, o nascimento.
Ele sempre estivera lá — aqui
dentro entre tantas ruas e lojas,
endereços de luzes e noites:
confusões feitas e refeitas
por milhares de andorinhas de vidro
(que) quebradas cortam nossa carne.
Ele sempre estivera aqui (calado)
olhando a noite interminável
pintar os corações alvos das estrelas.
Há outros como aquele
que ainda estão perdidos;
quando faz luz, tenho certeza que me olham,
que me tocam, que me acarinham
com garras que não ferem,
mas como há imperfeição num coração
de carne; quase nunca (ou sempre)
não os vejo, não os ouço com profundidade...
Tenho medo que minha vida termine
amanhã, e, os outros seres latentes,
findem comigo na dioturna manhã.
Mas sempre virão outros videntes
incumbidos de fazerem nascer
o que nos foi impossível...