POEMA E O PEDIDO

Ontem me disseram: “faz um poema”

A afirmativa me atormentou,

porque não se faz poema...

Ele sai da caverna quando

é chamado pela voz da linguagem.

Calei-me e me fiz ouvir os cânticos

das palavras... Ainda confuso

quase desisti; mas, os poemas

não gostam de seres fracos...

Insisti... e quando menos percebi...

... nascia uns traços tênues de corpos,

corpos que desejamos... que nos fogem.

Fui amando cada um com fúria

e calma, e subitamente, o nascimento.

Ele sempre estivera lá — aqui

dentro entre tantas ruas e lojas,

endereços de luzes e noites:

confusões feitas e refeitas

por milhares de andorinhas de vidro

(que) quebradas cortam nossa carne.

Ele sempre estivera aqui (calado)

olhando a noite interminável

pintar os corações alvos das estrelas.

Há outros como aquele

que ainda estão perdidos;

quando faz luz, tenho certeza que me olham,

que me tocam, que me acarinham

com garras que não ferem,

mas como há imperfeição num coração

de carne; quase nunca (ou sempre)

não os vejo, não os ouço com profundidade...

Tenho medo que minha vida termine

amanhã, e, os outros seres latentes,

findem comigo na dioturna manhã.

Mas sempre virão outros videntes

incumbidos de fazerem nascer

o que nos foi impossível...

MIRANIL MORAES TAVARES
Enviado por MIRANIL MORAES TAVARES em 07/09/2010
Reeditado em 12/09/2012
Código do texto: T2483090
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